O Portugal possível é todo o Portugal que existe e se dá a ver. O outro tem-se revelado impossível por dificuldades de visibilidade ou por erro de previsão (e por isso permanece fora de questão).

Entre o possível, o desejável e os diferentes graus de impossibilidade e de recusa, coloca-se toda a realidade que permitiu que a ficção se fosse precipitando em sucessivas existências pontuando uma geografia incerta feita de deambulações longas e instantâneos muitíssimo breves. Por vezes, uma e outra coisa em que tropeçamos no ofício de andarilho parecem pertencer ao mesmo ventre que as pariu como se, distinguindo apenas pequenos acasos e imprevistos, quisessem reafirmar que tudo aquilo vem do mesmo mundo e do mesmo devir. Outras vezes, uma ínfima mudança de ângulo ou de enquadramento revela um abismo onde habita um universo feito de momentos cada qual diferente, dissonante, novo, pronto a durar uma eternidade ou a sumir-se num novo relance do olhar.

É então que a terra incógnita se revela nitidamente das névoas que a encobriam. Livre de outras identidades que não a de sobre elas se ter pensado quase nada exceptuando relatos de mundos ao contrário povoados por seres fabulosos, tudo é nítido e verdadeiro por aquilo que mostra ou esconde a quem pensa que o que vê são apenas miragens. Não são. É toda a identidade que há livre de arquétipos, lendas, narrativas e espíritos que habitam rochas, nascentes, cavidades e altos lugares.


Percorremos um país contraditório. Em Portugal há espaços densamente povoados, outros, poucos, onde quase não se nota a presença humana. Há elementos construídos que desafiam a imaginação mais prodigiosa e, por vezes próxima desses espaços de desenho excessivo e desconexo, há a permanência de mundos arcaicos, ou mesmo paisagens que parecem antecederem a presença humana neste território. Quando pomos em diálogo imagens destas realidades antagónicas, observamos a distração hilariante de opostos que se relacionam por motivos pouco óbvios ou indiretos. O que vamos encontrar é a imagem evolutiva de um espaço e de uma cultura que se abre ao futuro próximo numa incerteza desconcertante. Estes são alguns fragmentos de um país que não podemos negar que existe. É a nossa face, comunidade transitória à procura de um equilíbrio que não existirá. São imagens, podiam ser palavras ou desenhos. Este é um Portugal possível, um retrato de nós próprios, tentativas, aproximações, erros, imagens focadas.

 


 
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