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The relationship between literature and philosophy is one of strict necessity. However, it is very difficult to capture this in an elegant way. So, instead, I will try and show it.

Here are three lines that could easily be mistaken for an assertion:

  • That everything is surface. The surface is what’s there
  • And nothing can exist except what’s there.1

Far from being a philosophical conclusion, these lines exhibit the very peculiar struggle poetry inherited: that it is but surface twice removed, that it is mere imitation of either the sound of language, or of nature itself; that it is the last word on its object, or that it is simply and definitely its own object; that it is immediately proclaimed through the eyes, even if it appears to our common sense to be very much mediated by someone else’s mind. Nevertheless, the problem has now been shown. And if you need a provisory conclusion, as we often do in order to continue reading a poem, you should take the cause of the poem seriously: there is “no way out of the problem of pathos vs. experience.”

In a way, choosing this particular poem is like shooting fish in a barrel. But I do not think it is that easy to recognize how we are led to a crude empiricism, and from that to an aporia, which in turn pushes us into a crude dualism as a way out (however temporarily)—“what should be the vacuum of a dream / Becomes continually replete as the source of dreams”. For that, first you have to learn how to recognize the problem that has been shown to you; and, consequently, you will recognize that this problem is the relation between literature and philosophy.

1 “Self-Portrait in a Convex Mirror”, John Ashbery.


PT


A relação entre literatura e filosofia sustém-se por mera necessidade. Contudo, é muito difícil descrever esta relação de forma elegante. Por isso, em alternativa, vou tentar mostrá-la.

Aqui estão três versos que com facilidade se confundem com uma asserção:

  • That everything is surface. The surface is what’s there
  • And nothing can exist except what’s there.1

Não sendo uma conclusão filosófica, estes versos mostram a luta muito peculiar herdada pela poesia: que é somente a superfície dois graus afastada, que é a mera imitação do som da linguagem ou da própria natureza; que é a palavra final sobre o seu objecto ou que é simples e definitivamente o seu próprio objecto; que se revela imediatamente pelo olhar, mesmo que ao nosso senso comum pareça ser muito mediado pela mente de outra pessoa. Ainda assim, o problema foi agora exposto. E se precisarmos de uma conclusão provisória, como normalmente precisamos se queremos continuar a ler um poema, devíamos levar a sério o motivo do poema: não há «nenhuma fuga ao problema do pathos vs. experiência» (“no way out of the problem of pathos vs. experience”).

De certa forma, escolher este poema é como roubar doces a uma criança. Mas não penso que seja assim tão fácil reconhecer como somos levados a um empirismo rude e daí até a uma aporia que por sua vez nos empurra para um dualismo rude como forma de escape (ainda que temporário) — «what should be the vacuum of a dream / Becomes continually replete as the source of dreams». Para tal, primeiro é preciso aprender a reconhecer o problema que nos foi apresentado; e, posteriormente, reconheceremos que este problema é a relação entre filosofia e literatura.

1 “Self-Portrait in a Convex Mirror”, John Ashbery.