PRIMEIRA PARTE — VI

Lowestoft sempre pareceu ao autor ser um sítio velho, estranho, desolado e esbranquiçado para se iniciar a conquista de uma língua, uma conspiração contra uma literatura, uma carreira de prestígio que se tornou mundial. De qualquer forma, costumava ser isso tudo: estranho, desolado, esbranquiçado, com mastros, guarda-costeiros, céu alto e vento de nordeste. O autor deve ter lá estado pela primeira vez aos cinco ou seis anos e, esticando um argumento ou outro e ignorando um par de anos, costumávamos chegar à teoria de que a coincidência nos tinha juntado assim tão cedo. Na verdade, isso não pode ter sido assim. Quando Conrad ouviu ou disse uma palavra em inglês pela primeira vez, o autor não podia ter muito mais do que três anos: por isso pode dizer-se que aprendemos o inglês dos adultos por volta do mesmo ano… Mas costumávamos manter um certo mistério sobre as nossas respectivas idades. Conrad era um tanto sensível sobre a sua idade, a caminho dos quarenta e cinco, e o autor ainda não se preocupava com isso.

Além disso, Conrad apreciava coincidências — nas nossas horas de lazer. Apreciava divertir-se com as semelhanças entre ele próprio e outros grandes homens — Johnson recolhia cascas de laranja e depois secava-as, assim como Conrad fizera em tempos. Ou encontrava em memórias inesperados traços de semelhança entre ele e Napoleão, Luís XVIII, Théophile Gautier ou o General Gallifet. Levantava os olhos do livro e lia a passagem em voz alta com prazer hilariante. Gostava de pensar, como já foi dito, que Christina Rossetti tinha escrito numa das secretárias Chippendale que nós tínhamos na Pent e noutra, oferecida ao pai do autor como prenda de casamento, Carlyle, que a tinha oferecido. Diria que O Coração das Trevas foi escrito na mesma madeira que:

Sossego, sossego, um sossego perfeito,
Derramado sobre fronte e peito,
O rosto para Oeste atreito,
O pacífico chão.

O cereal não irá ver
No monte e planície amadurecer,
A chuva caindo não irá ter
Sobre sua mão…ª

— e o End of the Tether [O Fim da Linha] à frente das prateleiras de vidro que tinham visto Carlyle escrever French Revolution [A Revolução Francesa]. Não interessava que Christina escrevesse mais regularmente no canto do seu lavatório ou que Carlyle tivesse comprado a secretária num vendedor de artigos em segunda mão na rua ao lado da Tite Street, em Chelsea. Não fazia de facto diferença que não apreciasse o trabalho de Carlyle ou que pensasse que Christina era a maior mestre de palavras em verso. Os versos mencionados foram a única poesia inglesa que o autor ouviu Conrad citar. Ele não tinha, literalmente, ouvido para a rima inglesa… Mas ali tinha de ter sido escrito O Coração das Trevas, e ali o poema; aqui o End of the Tether, e aqui o The French Revolution… Era como construir castelos retrospectivos em Espanha, era espremer a última gota do tema.

O mesmo se passava com as nossas carreiras coincidentes. As coincidências tinham de lá estar para momentos de júbilo. O autor, depois da nossa visita ao Sr. Wells, lembrou-se de perguntar se a grande tempestade na qual Conrad tinha passado o Canal pela primeira vez tinha sido igual ao grande vendaval que tinha feito naufragar o Plassy. E naquele momento passava a ter de ser. Não poderia ter sido por uns sete anos, ou assim. Mas era… Tinha de ser para o resto das nossas vidas. Será. Assim como com Lowestoft. Conrad conseguia fazer-se lembrar de haver lá um rapazinho com cabelo louro, comprido, um balde e uma pá, que costumava marchar até ao marinheiro jovem e fazer-lhe perguntas numa língua ininteligível… E de facto, em momentos de grande regozijo, dando pancadas nas costas do autor, Conrad costumava asseverar que tinha sido um dos livros do autor, visto num quiosque numa plataforma da estação de comboios de Genebra, que o tinha feito pensar em fazer carreira a escrever em inglês. Isso pode mesmo ter acontecido. Mas um detalhe da história de Conrad era abusivo demais para a beatice bibliófila do autor — embora ele pudesse ser conivente em qualquer altura com a distorção exequível de um par de anos entre dois amigos. Mas várias vezes antes da descoberta desta imensa coincidência, Conrad tinha relatado como estava na plataforma da estação de comboios de Genebra, olhando para o quiosque e a pensar ociosamente sobre o que fazer a seguir com a sua vida. Tinha estado a recuperar de uma doença, nas mesmas termas onde Maupassant morreu. Outra coincidência. Tinha visto uma fila de volumes pequenos, amarelo-canário — lembrem-se do amarelo-canário. Eram os livros da Biblioteca Pseudónimo,ª que o Sr. Garnett tinha apadrinhado — eram mais ou menos da mesma cor, e não muito maiores, que um maço de cigarros Maryland, a 1 fr. e 50. Mas eram famosos pela Europa fora. Não havia quiosque em que não se encontrassem… E, olhando para eles, Conrad disse: «Porque não haveria de escrever, também?»… O terceiro livro do autor tinha sido publicado nesse mesmo ano, também apadrinhado pelo Sr. Garnett, editado pela mesma empresa numa colecção chamada Biblioteca Independente…* Pode muito bem ter estado no quiosque, a colecção tendo como objectivo a circulação internacional. Não havia nada que tornasse a coisa minimamente improvável sequer… E no entanto! O trabalho do autor estava encadernado numa espécie de castanho putrefeito — a cor mais horrível que o autor alguma vez sequer imaginou. «Por isso não posso ter sido eu», como dizia a égua velha. Mas nada teria agradado mais aos estados generosos e efusivos de Conrad do que reclamar o autor como padrinho literário. Ele era assim.

Anos mais tarde, tendo o autor desembarcado neste país em Rouen, ocorreu-lhe quando pôs pé no cais: Conrad começou a escrever Almayer’s Folly no camarote de um barco atracado neste mesmo porto. Quando levantava o olhar da sua secretária, conseguia ver, pela vigia, a estalagem na qual Emma Bovary se encontrava com o seu amante. É este, então, o local exacto? Estou então a começar onde Conrad iniciou essa outra batalha?… Num intervalo, o autor perguntou a Conrad se estes locais seriam coincidentes. Começou logo a animar-se numa ocasião pesarosa: «Sim, sim», disse ele. «Mesmo à frente desse local… Duas portas à esquerda na estrada que vai para o Poste Centrale… Meu caro, Ford… O local exacto.» Nesta coincidência o autor tentará não mexer.

Conrad desembarcou, então, em Lowestoft, quando o autor tinha cerca de três anos e Conrad não muito mais do que vinte: em 1877, está o autor relativamente certo. Aqui ouviu as primeiras palavras inglesas, reconhecendo-as. Foram: «Ovos e bacon ou marmelada?» Sentado ao balcão de uma taberna para onde tinha sido levado por um velho cavalheiro que acabou por convidá-lo a ficar. Todas as manhãs, ao pequeno almoço, o velho cavalheiro pronunciava a citada referência matinal inglesa e depois ia à sua vida. Era o proprietário da famosa cerâmica de Lowestoft, por isso Conrad acabou por passar um tempo como aprendiz num brigue do proprietário da cerâmica. Fazia viagens quinzenais a Newcastle para trazer o carvão de que a cerâmica necessitava. Passou o tempo suficiente neste serviço costeiro para chegar, à vez, a marinheiro, imediato e capitão. Tornou-se num sujeito naturalizado britânico mesmo antes de passar a capitão…

Foi durante estes anos todos que leu. Homens no mar lêem em quantidades desmedidas. Durante as vigílias quando não estão de serviço podem passar, se tiverem esse espírito, horas sem se mexer com livros, absortos, como crianças. Uma grande percentagem das cartas de leitores recebidas por escritores vêm de marinheiros, seja ao serviço do Rei ou da marinha mercante. Conrad tinha um grande número destes correspondentes: curiosamente, o autor partilhava um dos seus, um oficial, com Conrad. À medida que cada um dos nossos livros saía, escrevia ao respectivo autor a partir de Gibraltar, dos mares da China, de alguma base no Pacífico — cartas muito boas. Parecia não fazer ideia de haver alguma relação entre os destinatários, mas como ele nunca nomeava o barco em que servia, nenhum de nós lhe escreveu. As cartas terminaram depois de 1914.

Foi a grande fortuna de Conrad ser poupado à literatura habitual que preside à instrução do escritor britânico. Leu livros tão usados quanto aqueles que se encontram nas estações das tripulações de barcos. Leu a Sra. Henry Wood, a Menina Braddon — sobretudo a Menina Braddon! — o Family Herald, excepcionalmente chegando mesmo até ao William Black tardio ou aos escritores pseudoliterários seus contemporâneos. Disse, uma ou duas vezes, que enquanto descia a Ratcliffe Highway foi abordado da entrada de uma porta por um cavalheiro que lhe ofereceu uma edição de bolso da Bíblia em inglês. Esta estava impressa em papel de arroz. Usou as folhas para enrolar cigarros mas, antes de fumar, lia sempre a página. Assim, dizia ele, aprendeu inglês. O autor sempre imaginou que esta história era uma das mistificações de Conrad. Normalmente, expressava a maior gratidão aos autores do Family Herald — uma compilação de novelas mensais cuja gramática era muito eficientemente censurada pelos seus sub-editores — e sobretudo à Menina Braddon. Ela escrevia inglês muito bom, muito sóbrio; usinava os enredos bem e inofensivamente; era absolutamente primorosa, os seus melhores romances sendo os últimos e menos conhecidos. Muito depois deste período na marinha, Conrad leu The Orange Girlª [A Rapariga das Laranjas], um romance passado no tempo de Carlos II. Reconheceu aí, assim disse na altura, todas as qualidades que tinha encontrado no trabalho desta escritora quando era marinheiro. A Menina Braddon aprendeu grego aos oitenta anos para poder ler Homero no original. Morreu apenas recentemente.

Desde essa altura, por um período de dez anos, Conrad seguiu o mar. O mar alto, lendo todo o tipo de livros. Uma vez oficial com alojamento próprio, retomou a leitura em francês ao mesmo tempo que lia os livros populares ingleses. Lia Flaubert e Maupassant com a maior veneração; Daudet e Gautier com menos; com muito menos, Pierre Loti. Atormentado pela curiosidade por palavras, mesmo no mar, tomava notas nas margens dos livros franceses para a tradução de frases. O autor viu vários destes livros velhos de Conrad, especialmente uma cópia anotada de Pescador da Islândia — e, claro, a cópia de Madame Bovary, nas margens e nas guardas da qual foi começado Almayer’s Folly.

Da vida de Conrad no mar alto o autor propõe dizer quase nada. Por mais intimamente ligado à escrita de muitas histórias marítimas de Conrad, o autor não conseguiria satisfatoriamente dizer qual versão de uma história semiautobiográfica, como O Coração das Trevas, era a versão impressa, qual a preparação para a história impressa, como Conrad a relatou ao autor, qual a versão que Conrad relatava para o prazer dos seus ouvintes de ocasião e qual era, afinal de contas, o relato autobiográfico oficial. Ocasionalmente, como no relato do encontro com Roger Casement na orla da selva em Boma, Conrad virava-se para o autor e dizia: «Guarde isso, mon vieux, para a minha biografia…», falando meio a brincar.

No entanto, por uma fatalidade estranha, durante a última guerra aconteceu que o autor se deparasse com um conjunto ainda extenso de escritos do tipo epistolar enviados por Conrad a bordo de um navio para um compatriota. Por Conrad na qualidade de político, não de marinheiro! Era precisamente um conjunto de escritos uma vez que cada uma das cartas era uma espécie de ensaio sobre política internacional, e era estranho uma vez que era completamente desinteressante de qualquer ângulo. De alguma forma era apaixonado, no sentido em que estava cheio de pretensões a que a Grã-Bretanha se unisse, de uma forma ou de outra, contra a Rússia. Era suposto unir-se à Alemanha, Áustria, França — qualquer uma, desde que enfrentasse o urso. Mas todas estas cartas foram escritas com uma fluência tal que, se tivessem chegado ao autor para edição, ele tê-las-ia atirado imediatamente para o caixote do lixo. Era como se Lorde MaCaulay tivesse andado a escrever editoriais para um jornal popular… Antes disso, um dos familiares de Conrad tinha mostrado ao autor algumas cartas que Conrad tinha escrito ao Indépendance Belge. Estas eram outra história — escritas admiravelmente, intensamente emocionais. Como se Pierre Loti tivesse tido alguma coragem! Continham, de facto, como seria de esperar, uma parte substancial do corpo e essência de O Coração das Trevas.

O autor, no entanto, não deu mais do que um relance a ambos os documentos. A senhora tinha guardado a correspondência do sobrinho como se fossem recortes e, quando Conrad não estava na divisão, apresentou o maço ao ami le poète de Conrad. O autor leu-as talvez durante meia-hora antes de Conrad regressar: então o seu autor exibiu tanta perturbação que o autor parou. O mais provável é que Conrad tenha queimado o maço… Aconteceu algo de semelhante com as outras cartas. Tinham sido emprestadas pelo seu destinatário numa altura em que o autor estava muito ocupado; olhou-as de relance o tempo suficiente para formar a opinião expressa acima e depois guardou-as. Antes de ter tempo para olhar para elas outras vez ocorreu-lhe que Conrad poderia preferir que não as lesse. Assim, o autor escreveu a Conrad e recebeu a resposta de que Conrad preferia muito que as cartas não voltassem a ser lidas e que o autor as devolvesse ao seu dono. É de esperar que não venham a ser desenterradas.

Não se deve deduzir que Conrad tivesse algo a esconder. Não gostava que o autor lesse os seus primeiros trabalhos devido a uma timidez que acompanha a maturidade de todos os autores. Este autor daria uma boa quantia se a prateleira do Museu Britânico que contém os seus primeiros trabalhos pudesse ser queimada, e Conrad dizia ocasionalmente que a ideia de o autor, ou outra pessoa qualquer, a ler certas histórias de Um Posto Avançado do Progresso, ou mesmo certos parágrafos do seu trabalho tardio, dava-lhe chair de poule na espinha. É como um sentimento de modéstia física.

No entanto, em momentos de maior robustez declarava que os artigos em forma epistolar eram produções magníficas. Relembrava ao autor que a opinião expressa pela tia era a de que essas cartas formavam prosa excelente: e, em momentos de depressão sobre o seu trabalho da altura, declarava que aquilo que tinha escrito em francês antes de tentar sequer o inglês era infinitamente superior a qualquer coisa que pudesse fazer nessa língua inexacta e mal-amanhada que era o inglês. Dizia que a ideia de realmente escrever em inglês — num inglês que tivesse valor duradouro — nunca lhe ocorria enquanto estava no mar. Escrevia cartas e ensaios longos com o objectivo de melhorar o vocabulário para ocasiões sociais. Então, um dia, a escrever uma carta imaginária ao Times sobre um assunto profissional qualquer relacionado com a marinha mercante britânica, sentiu como se tivesse realmente «abocanhado a caneta»… As cartas mais antigas a que o autor deitou o olho confirmam isto satisfatoriamente. Não era que fossem más: eram só loquazes.

O autor não se recorda em que momento da escrita ou da leitura, em que convés ou em que porto, é que Conrad encontrou, assim, a religião da prosa inglesa. Foi, provavelmente, em Sidney, durante um período numa casa de repouso. Surge como algo que Conrad terá dito, mas pode muito bem ser um erro… No entanto, Conrad costumava dizer que nessa casa de repouso eram alimentados a tomates e leite, uma combinação horrível: também ocasionalmente, costumava dizer que os seus primeiros trabalhos eram como tomates e leite consumidos em conjunto. Uma combinação horrível!, acrescentaria… Ou, como é óbvio, a revelação das suas capacidades pode ter-lhe ocorrido em Rouen.

De qualquer maneira, algures nas águas profundas Conrad encontrou a religião.

Nós tínhamos deixado Lowestoft e chegado a capitão… Fizémos a viagem no Judea, Andar ou Morrer — o Palestine, na verdade — que encontram narrada em Mocidade. Passámos tantos e tantos anos no Oriente. Encontram-se rastos deles em End of the Tether, para não ir muito além do volume de Mocidade. Comandámos a marinha do Estado Livre do Congo — a bem de O Coração das Trevas. Assim nós temos o leque completo da juventude, fidelidade e imbecilidade humana… E se o autor escreve «nós» — é assim que se sente. Porque não era possível ser conduzido imperiosamente pela vida de Conrad, naquela fraseologia de passagens desordenadas e ardentes, e não sentir — mesmo acreditar — que tínhamos tido, nós próprios, essa experiência. E o sentimento era exacerbado por Conrad insistir em crer que tínhamos mesmo, pelo menos ao ponto de sabermos em qualquer altura onde ele tinha estado, o que tinha visto e o que tinha feito. 

As cenas da vida de Conrad como descritas mais tarde, digamos em O Coração das Trevas, são realmente tão vívidas na cabeça do autor por causa do que Conrad disse como por causa do que Conrad lá escreveu. É uma coisa estranha. De facto, sob os olhos brilhantes do autor estão as teclas claras e iluminadas de uma máquina de escrever. No entanto, o autor vê distintamente tanto o interior como o exterior de uma barraca de folhas de palmeira, a luz do dia a brilhar pelas frestas. Está um homem deitado no chão da barraca, a esticar-se na direcção de uma pilha de latas de leite condensado. O homem está meio na sombra — meio Conrad, meio o autor: demasiado alto para Conrad; uns dois metros e meio todo esticado, tronco e braços. Lá fora uma maré cinzenta imensa, a outra margem quase indistinta: umas quantas árvores escuras de contornos irregulares. E um homem — a chegar. Com roupa de fazendeiro: bermudas, perneiras, uma camisa de flanela e um sombrero… Algum tempo antes tinha levantado a ramagem da floresta na margem oposta e olhado para a nossa barraca… Faz uma fogueira e dá-nos uma sopa… Vem de quinze em quinze dias…

Tínhamos estado nas nascentes do Congo: quase em Fashoda, diz a parte sem orientação das nossas cabeças que olhou uma vez para um mapa de África para ver por todo o lado Terra Incognita — nos anos oitenta — e que nunca mais olhou para um mapa de África. Tínhamos pertencido ao Partido Humanitário. O Partido Humanitário não acreditava em alimentar as nossas tropas negras com presos negros: os Conservadores sim. Por isso os Conservadores tinham-nos envenenado ou algo parecido. E tinham posto o nosso quase-cadáver ao cuidado de carregadores nativos para nos levarem, vivos ou mortos, até Boma, na costa. Para os nativos era igual se nos entregavam vivos ou mortos: recebiam o mesmo.

A meio da descida do Congo tinham-nos largado numa barraca que era um esconderijo para leite condensado. Tinham ido passar uma quinzena à sua aldeia… Extraíamos o leite condensado das latas por sucção, tendo-as furado previamente com um canivete… O leite condensado era exactamente o antídoto para o veneno!… Os carregadores, negros, os dentes brancos a sobressair, regressaram, não descontentes por nos verem vivos. Não contentes… Surpreendidos!… Carregaram Conrad até Boma, um ajuntamento sufocante de barracas de latão. Os Bomeses deram-se a grandes trabalhos para nos manter vivos: devemos morrer no mar, senão a taxa de mortalidade no Estado Livre do Congo aumenta em um…

Então, um dia, em Boma, indiferentes às barracas abomináveis, caminhámos ao longo da costa, entre o mar de seda e as árvores fumegantes. Um homem, com a luz do sol na cara, sapatos de ténis brancos e com dois buldogues no seu encalce saiu da floresta negra. Disse Olá! Tinha atravessado África a pé desde o lado de Zanzibar com os seus sapatos de ténis, sem carregadores, sem escolta a não ser os seus buldogues e sem armas. Tinha um tal fascínio pelos homens negros. Era Roger Casement… Havia uma grande quantidade de luz, o céu azul, o mar acinzentado e oleoso, a floresta verde-escura uma parede: a praia rosa, os buldogues calcando-a para virem cheirar os nossos calcanhares…

Era em imagens como esta que a vida de Conrad se compunha para o autor, até mais ou menos à altura em que nos embrenhámos no Herdeiros. Metade veio de uma maneira tímida, para biografia, metade em imagens, o resultado de anedotas esparsas. Assim, se acontecia que um de nós estivesse nervoso por excesso de trabalho e conversássemos sobre nervos, Conrad diria: «Por Júpiter, quando saí do Ospedale Italiano e fui à Baixa para receber um pagamento, fiquei tão assustado com a algazarra no metro que tive de me deitar no chão da carruagem. Os nervos em franja…» Assim, o autor tem esta imagem de Conrad deitado entre os assentos, nas coisas parecidas com estrados que costumavam cobrir o chão das carruagens velhas do metro; foi só por conjecturas anteriores e posteriores que o autor percebeu que Conrad deu entrada no Hospital Naval Italiano em Londres depois de regressar de Boma e que daí tinha ido para a Suíça, para as termas perto de Genebra nas quais morreu Maupassant.

De rastos como estava na altura, teve de pensar no que fazer com o resto da sua vida. Pensou que já não estava em condições para seguir o mar. Quando estava um pouco melhor viu aqueles volumes amarelos no quiosque em Genebra. Vê-los e a evocação de Maupassant fizeram-no dizer: «Por Júpiter: porque não escrever?» Quando decidiu que poderia escrever teve de decidir em que língua o fazer. Havia o francês e o inglês. Em inglês não havia estilistas — ou eram muito raros. O francês estava apinhado deles. Quando é que tomou a decisão de escrever em inglês o autor não sabe. Costumava dizer que tinha sido no porto de Rouen, à frente do hotel onde Emma Bovary se habituara a encontrar-se com Rodolphe.

Aqui, olhando pela vigia ao longo do chão gelado até à porta da estalagem, começou a traduzir frases da cena entre Rodolphe e Emma na feira de gado. Disse que começou com as frases formais de amor romântico de Rodolphe que eram sussurradas entre os anúncios de prémios para os bois e, assim, trabalhando para fora, chegou às páginas mais brancas da capa, contra capa e guardas. Nestas começou Almayer’s Folly. Na altura estava a ler Jack, de Daudet, que o fascinou grandemente apesar de achá-lo trop chargé — como quem diz, demasiado pungente. 

Aquilo que consta dos dois parágrafos anteriores foi contado por Conrad ao autor uma e outra e ainda outra vez.

Nos anos tristes para a Europa, Conrad escreveu uma passagem contradizendo a declaração feita por alguém e publicada algures de que ele tinha tido de escolher entre escrever em inglês ou francês. Afirmou que desde o princípio que o inglês o abordou e deteve. Isto era urbanidade para com Inglaterra numa altura em que eram exigidos gestos patrióticos extravagantes a pessoas de origem estrangeira: Henry James idealizou o beau geste de se naturalizar cidadão britânico praticamente no leito da morte, Conrad este outro. Do ponto de vista nacionalista era desejável, do ponto de vista da precisão literária, de lamentar. Porque é óbvio que quem quer que seja que contemple a escrita e seja praticamente bilingue deve, de tempos a tempos, hesitar sobre a língua em que vai escrever. O autor tem de fazer a escolha todas as manhãs. Teve de fazer a escolha na manhã a seguir ao dia em que soube da morte de Conrad. Essa foi uma escolha mais definitiva do que aquela que Conrad fez — mas não muito mais. As suas relações e contactos na Bélgica pressionaram-no certamente para escrever em francês muito antes de ele pensar escrever em inglês. Disso foi o autor assegurado pela tia de Conrad, que lamentou até ao fim que Conrad escolhesse uma língua que o tornava inacessível para aquilo que ela considerava ser o mundo civilizado. Ela própria escreveu vários romances, notavelmente para a Revue des deux Mondes.  

O argumento não tem grande relevância. Obviamente que se, como Conrad afirmou frequentemente, as primeiras palavras em inglês que ele ouviu foram os versos que continham a pia aspiração: já enfrentámos o urso antes e voltaremos a fazê-lo, os russos não ficarão com Constantinopla! — essas palavras podem bem tomar conta de um polaco jovem, louco para participar na política. O que é substancial é que Conrad sempre soube francês muito melhor do que inglês. Isto só amplia a glória daquilo que alcançou na nossa língua. Em francês era perfeitamente fluente, em inglês nunca; no estrangeiro era sempre confundido com um francês; ninguém o poderia ter imaginado inglês pelo discurso ou porte. Mais uma vez, esses argumentos não têm relevância: o que é miraculoso é que ele pegou no inglês, assim mesmo pelo pescoço, e, batalhando até de madrugada, tornou-o obediente a ele como o foi para poucos outros homens. O caso é espantoso mas não incompreensível. O autor escreve francês melhor do que inglês, não por conhecer melhor o francês mas precisamente por conhecê-lo pior: em inglês, pode avançar exultando alegremente com o seu domínio absoluto da língua. Pode escrever, se lhe aprouver, como o falecido Sr. Ruskin ou como o falecido Charles Garvice. A escrever francês, mas não a falar, tem de se demorar na palavra: é no demorar-se na palavra que reside a salvação de todos os escritores. A prova da prosa está na percentagem de palavras correctas. Não na palavra preciosa: nem mesmo no surpreendente mundo real.

Uma vez discutimos durante muito tempo se Conrad devia escrever sobre o carácter parrudo da resolução de uma certa personagem. Como adjectivo pitoresco, «parrudo» tem a sua atracção. Imaginamos um homem entroncado e grosseiro, inarticulado e com aptidão para ser inflexível, mas com uma boa consciência. Sem dúvida que o autor deve ter sugerido o adjectivo. Recusámo-lo após muita discussão, o autor sendo contra e Conrad a favor do seu uso. Conrad apreciava a sua qualidade pitoresca e estava sempre pronto para ser indulgente com as sugestões do autor. Podia dar-se ao luxo de o ser. Decidimo-nos por «estolidez», que é mais pacífico na frase. Eventualmente foi-se a frase toda… A história era a Gaspar Ruiz, de Conrad. Este é um exemplo relativamente exacto da maneira como trabalhámos durante muitos anos…

Então Conrad, no porto de Rouen, decidiu que ia escrever livros em inglês. A partir desse momento, os episódios que se seguem retornam ao autor através da autobiografia relatada por Conrad. Esperou durante muito tempo nesse porto, porque o navio onde deu consigo a capitanear tinha sido apreendido pelos delegados do xerife, por dívidas. Naturalmente não eram dívidas de Conrad. O navio era um entre os de uma linha francesa Rouen-Nova Iorque projectada mas que nunca passou daquele navio, e aquele navio ficou ali à espera durante muito tempo, não tendo o financiador angariado dinheiro suficiente… Aqui entra mais uma coincidência bastante curiosa entre a carreira de Conrad e a do autor: infelizmente, ainda não pode ser narrada, estando incontactável e provavelmente ainda viva uma das partes envolvidas … No entanto, presumivelmente, se duas pessoas calcorreiam pelo mundo em vizinhanças similares por um período de tempo antes de se conhecerem, chegarão a estar muito próximas de dar as mãos inconscientemente muitas vezes…

Assim, gradualmente, Conrad pareceu perder o contacto com o mar. Abriram-se mais e mais vislumbres de carreiras costeiras, de tal maneira que o registo daqueles últimos tempos parece ser apenas o de viagens abortadas… Assim, o autor lembra-se com nitidez peculiar da chegada de um telegrama para o Capitão Conrad, dizendo-lhe para assumir comando de um navio a carregar no porto de Antuérpia, e de uma viagem em pleno Inverno… Mas é só uma vinheta de um porto invernal com lâmpadas de arco geladas entre as árvores despidas sobre as águas negras: o acondicionamento estava a ser mal feito, o navio não sendo o ideal para transferir a sua carga. Aparentemente era por isso que Conrad tinha sido chamado. Se chegou a zarpar permanece como uma incógnita na cabeça do autor.

Não há dúvidas de que Conrad era um capitão muito eficiente — mas excessivamente ansioso acerca dos pormenores. Todos os vários oficiais que alguma vez navegaram com ele relataram a mesma coisa ao autor. Conrad satisfazia-se com manobras extremamente perigosas, passando entre zonas costeiras mortais, recortadas como lâminas de facas, enquanto os oficiais e tripulação tremiam — mas acerca de pormenores muito pequenos do acondicionamento de mastros e coisas parecidas ele perdia a cabeça e virava o barco do avesso a praguejar. Da mesma forma, na escrita ele atacava temas quase impossíveis e quase enlouquecia com uma frase; ou, na condução, fazia razias às colunas de pedra como um louco e depois esconjurava o cavalariço até à última por tê-lo deixado sair com o chicote velho em vez do novo… Têm um relato de uma saída em O Companheiro Secreto. É possível, no entanto, que a minúcia com o pormenor na qual, de acordo com os seus oficiais, Conrad tanto insistia a bordo, não fosse assim tão miudinha.

Há, por exemplo, a história do rapaz do Conway. Conrad gostava de relatá-la como um exemplo da falta absoluta de sentido de responsabilidade no carácter dos ingleses — ou, de qualquer maneira, dos ingleses quando jovens. Conrad tinha com ele, então, a bordo de uma embarcação em Table Bay, um terceiro-oficial, ou talvez um aprendiz, que tinha chegado há pouco do navio-escola Conway. Parecia que estava a chegar mau-tempo e Conrad perguntou-lhe se tinha acondicionado os cabos convenientemente. O rapaz respondeu que sim. O vendaval esperado chegou, soprando em direcção à costa. Era preciso largar outra âncora. À medida que o cabo acabou uma das juntas encravou… O autor confessa não compreender este pormenor técnico… De qualquer maneira o navio estava em perigo iminente devido ao descuido — à absoluta irresponsabilidade — daquele rapaz do Conway. O rapaz do Conway, correndo um risco terrível, saltou para o cabo e deu um pontapé na junta para a pôr no lugar, salvando o navio… Conrad costumava comentar que era inimaginável que qualquer rapaz francês tivesse negligenciado a supervisão daquele cabo: no entanto, tivesse feito o impossível, negligenciando-o, provavelmente não teria saltado sobre o cabo. Teria cometido suicídio, por vergonha e por saber que a sua carreira estava terminada… Talvez tivesse sido melhor saltar primeiro sobre o cabo e, depois, cometer suicídio. O assunto em discussão era, no entanto, responsabilidade…

Então, se um dos oficiais que navegou com Conrad e que depois falou com o autor fosse — como o autor muito desconfiava — esse rapaz do Conway, não seria improvável que avolumasse a atenção hipercrítica de Conrad aos pormenores. As pessoas que metralhámos — e Conrad dizia que tinha metralhado tanto aquele rapaz até ele quase querer cometer suicídio — bem, depois acabam por se vingar de nós de uma maneira ou de outra. É apenas a natureza humana.

De qualquer maneira, Conrad era, em todos os aspectos, um oficial muito admirável. No entanto odiava o mar… Uma e outra vez relatava como achava esmagador, com a sua estatura pequena, negociar mastros pesados, cordame teimoso e tempo negro. Costumava dizer, elevando os braços a meia altura: «Olhe para mim… Como é que fui feito para estas imbecilidades? Além disso, os meus nervos estavam sempre em franja…» E contava outra vez como, subindo o Canal numa noite de luar, de repente, mesmo por baixo da esteira do Torrens, tinham aparecido as velas fantasmagóricas de uma embarcação pequena. Era, costumava dizer, algo de sobrenatural, do tipo de coisas que estavam sempre a acontecer no mar. Disse que não era tanto o coração subir-lhe à boca durante os segundos que a embarcação demorava a passar: permanecia na boca durante meses depois disso. Ainda lá estava quando pensava nisso…

Na viagem de volta do Torrens tinha tido como passageiro o Sr. Galsworthy, a caminho do Cabo. Tinham confidenciado timidamente um ao outro — cada um estava a escrever!… Daí nasceu uma amizade que durou uma vida… O alvoroço que não foi na Pent quando Conrad, abrindo uma carta, exclamou: «Hurra… O Jack vem cá!» A égua teve de ir ao Dan West, em Hythe, meia dúzia de vezes nesse dia… Uma vez, o Sr. Galsworthy, chegando a Sandling Junction, deu com a caleche demasiado carregada. Percorreu ao lado dela os quatro quilómetros até à Pent, conversando simpaticamente enquanto caminhava a passos largos. O autor nunca viu nada tão desembaraçado, pois a Nancy andava bem, com orelhas compridas e tudo… Essa tornou-se numa das façanhas lendárias da Pent, juntamente com o tiro de sorte do autor ao rato… Era a melhor prestação… É uma pena que não haja nenhuma façanha do Sr. Robert Bontine Cunninghame Graham para pôr ao lado. Esse poderoso cavaleiro também podia, com uma carta a anunciar uma visita, acordar a zelosa Pent como um ramal à passagem de um grande comboio-correio… Conrad tinha amigos muito bons.

Outros desvios do mar de que Conrad gostava de falar e que o autor nunca conseguiu ordenar cronologicamente eram a administração de um depósito na margem do Tamisa, perto de uma das pontes… London Bridge, provavelmente… e a entrada na bolsa, em conjunto com o Sr. Fountain Hope, de uma mina de ouro sul-africana… A razão que levou Conrad a achar atractivo administrar um depósito que fazia o transbordo de carne enlatada o autor não sabe. Ou talvez saiba. De qualquer maneira, Conrad falava desse tempo com entusiasmo, como um período divertido. Tinha dado com o emprego enquanto esperava por um navio com um amigo com um nome parecido com Krieger, com quem perdeu o contacto depois. Às vezes Conrad perguntava: «O que será feito do Krieger?»… Divertiram-se juntos à maneira de marujos em terra, indo até ao Royal Aquarium à noite ou sentando-se em barris na tabacaria mesmo ao lado da estação de Fenchurch Street — um sítio óptimo para ouvir falar de um navio. Uma vez, quando íamos ver o Capitão Hope — outro bom amigo de Conrad — a Stanford le Hope [sic], Conrad mostrou ao autor marcas que alegou serem dos seus pés a bater na frente do balcão da tabacaria… Não há dúvida de que outros capitães à espera de navios tinham feito a sua parte.

Em Fenchurch Street, e particularmente na estação, Conrad era um homem diferente — com os seus ecos! A luz lúgubre enquadrava-o muito apropriadamente, truculências apareciam-lhe na voz: conhecia os bares todos e tornava-se logo no cavalheiro citadino aventureiro com olho para um rabo de saia que não tivesse levantado pó nesses vinte anos. Tinha de ter uma mão cheia de charutos dessa tabacaria — ele que nunca fumava nada que não fossem inúmeros meios-cigarros o ano inteiro, acendendo-os e quase de imediato deitando-os fora para acender outro. Não há nenhuma estação como a de Fenchurch Street na estrada para Tilbury. Conrad podia dizer para onde ia cada tipo robusto e de brinco, com um lenço azul às bolas brancas debaixo do braço… Impressionou bastante o autor que na barbearia da estação estivesse um cartaz onde se lia: Raspagem dos dentes dois xelins, extracções meio xelim… Chegar do mar alto para isto!

A aventura citadina de Conrad deve ter sido neste espírito. Era possivelmente a terceira fortuna que perdia. Ele, o Sr. Hope e um irmão — o Sr. Hope pode bem corrigir os detalhes: esta é a saga relatada em Fenchurch Street (Conhecem a história de Grunbaum, que pergunta a Klosterholm: é verdade a história que ouvi sobre o Solomons ter ganho quarenta mil dólares em St. Louis no negócio da roupa a retalho? Bem, responde Klosterholm, a história é verdadeira, os detalhes é que estão errados. Não foi em St. Louis, mas em Chicago. Não foi no negócio a retalho, mas no grossista. Não foram quarenta mil, mas cento e quarenta mil dólares. O dinheiro não era dele, mas sim meu. E ele não o ganhou: perdeu-o.) Então, Conrad, o Sr. Hope e um irmão tinham tomado posição na South African Gold-fieldsª sobre a pretensão a cerca de um terço do que é hoje a De Beers Mine.* Vieram a Londres estabelecer uma companhia na altura da explosão do mercado das sul-africanas. Para começar, o solicitador deles perdeu-se no Kinfauns Castle com as escrituras todas. Antes de conseguirem arranjar outras, o mercado entrou em declínio; na altura em que estavam prontos para a entrada em bolsa o mercado já lhes tinha puxado o tapete. Um dos agiotas chantagistas que parecem indispensáveis ao parlamento britânico, e a todos os outros parlamentos, virou a atenção para a Conrad & Co. Exigiu dinheiro em troca de um bom relatório no seu pasquim. Os aventureiros mandaram-no para o diabo. A brochura da mina foi impressa pela mesma empresa que imprimia o pasquim. Quando a brochura saiu, o pedacinho de vermelho no mapa que deveria mostrar a propriedade Conrad-Hope estava já bem no terreno de outra companhia. O agiota apontou exultante no seu pasquim que a mina não devia ter nada… No entanto eles entraram na bolsa…

Conrad costumava descrever como, tendo publicado a brochura no dia da entrada em bolsa, navegaram no Tamisa exultantes, numa lancha a vapor com charutos, champanhe e ovos de tarambola em gelatina… Deus sabe que mais. Era suposto desembarcarem milionários… Chegaram à margem para descobrirem que a entrada na bolsa tinha sido um falhanço desastroso. Apenas cento e oitenta acções — um número extraordinariamente pequeno — tinham sido subscritas pelo público.

Essa foi a última aventura empresarial de Conrad. Se voltou a enviar um telegrama ao tio, nunca o disse… Vamos parar por um momento e pensar no que teria sido da literatura britânica se aquela entrada na bolsa tivesse sido bem sucedida… Porque Conrad era um extraordinário homem de negócios do tipo imaginativo. Podia muito bem ter sido Park Lane em vez da Pent. Pois Conrad odiava escrever mais do que odiava o mar… Le vrai métier de chien

Partilhe:
Facebook, Twitter, Google+.
Leia depois:
Kindle
 

ª No texto de Ford, os versos transcritos contêm diferenças em relação aos versos do poema original: onde se lê «peaceful» deveria estar «purple»; outra variação é a substituição da forma «cannot» pela forma «shall not», no quinto e no sétimo versos. Esta é a estrofe como Ford a transcreve:

Rest, rest, a perfect rest
Shed over brow and breast;
Her face is toward the West,
The peaceful land.
She shall not see the grain
Ripening on hill and plain;
She shall not feel the rain
Upon her hand.
[N. do T.]

 

ª Pseudonym Library, no original. [N. do T.]

 

* Independent Library, no original. [N. do T.]

 

ª Romance de Sir Walter Besant (1836-1901). [N. do T.]

 

ª A referência parece ser à empresa Gold Fields of South Africa, fundada no final da década de 80 do século XIX por Cecil Rhodes e Charles Rudd. [N. do T.]

* A empresa De Beers Consolidated Mines foi fundada por Cecil Rhodes, resultado da fusão de várias empresas. [N. do T.]