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Poets, playwrights, and novelists often express and sometimes create the various ways in which we make sense of ourselves, of our experiences and of the world. And they do so with words. The discussion of these kinds of ultimate problems has been at the centre of philosophical activity since its beginning, as it was described and lived out by Socrates and Plato. At the same time, when trying to understand a particular verse, or character, or literary choice, it may happen that we face questions that have been troubling philosophers since those ancient times. Some philosophers are also very much attracted by literature. Some literary scholars and artists are also very interested in philosophy. Some people are both philosophers and literary scholars or philosophers and literary artists. Although I think philosophy and literature are clearly distinct practices, I also take these sympathies to be somewhat natural, so I tend to agree that there is a viable field that could be constituted as “Philosophy and Literature.”

Viable, in the first place, since there is sufficient interest in it. There are currently research groups and projects, seminars, conferences, journals, podcasts, and so on that are explicitly or implicitly natural fits to such a field. It could, then, be asked: why is that? What, in the nature of these two practices, makes it so that so many people engage them both? What is the substance of this “viability”?

I have no rapid answer to this question, but I can point to some aspects that I have been exploring: their diverse relations to truth and reality, especially about oneself, their connection to meaning and understanding, and the fact that humans essentially desire beauty and truth and take pleasure in them. Interesting as it may be, though, the theoretical inquiry into the nature of these practices and their interrelations is just one of the topics that may be explored in this field; and, I venture to say, not the most fascinating one. Perhaps, like the famous sports brand 90’s slogan, it is more exciting to “just do it”: take Nabokov and see whether Augustine helps understand his characters or take Augustine and see whether Nabokov helps illuminate his arguments.


PT


Poetas, dramaturgos e romancistas, muitas vezes, expressam e, por vezes, criam variadas formas com as quais damos sentido a nós próprios, às nossas experiências e ao mundo. E fazem-no através de palavras. A discussão em torno deste tipo de problemas últimos tem estado no centro da actividade filosófica desde o seu início, tal como foi concebida por Sócrates e Platão. Ao mesmo tempo, quando se tenta perceber um verso particular, ou uma personagem, ou escolha literária, pode acontecer que enfrentemos questões que têm inquietado desde esses tempos antigos. Alguns filósofos são também profundamente atraídos pela literatura. Alguns estudiosos de literatura também se interessam muito por filosofia. Algumas pessoas são filósofos e estudiosos da literatura ou filósofos e artistas literários. Apesar de pensar que filosofia e literatura são práticas claramente diferentes, considero que estas simpatias são de alguma forma naturais, por isso, tendo a concordar que «Filosofia e Literatura» seja um campo viável.

Viável, em primeiro lugar, porque existe interesse suficiente nele. Existem, actualmente, grupos e projectos de investigação, seminários, conferências, revistas, podcasts, entre outros que, implicitamente ou explicitamente encaixam de forma natural num tal campo de estudos. Poder-se-ia, então, perguntar-se: porquê? O que é que, na natureza destas duas práticas, faz com que tantas pessoas se envolvam em ambas? Qual é a substância desta «viabilidade»?

Não tenho uma resposta rápida para esta pergunta, mas posso apontar para alguns aspectos que tenho explorado: as suas diversas relações com a verdade e a realidade, especialmente acerca de nós próprios, a sua ligação com o significado e o entendimento, e o facto de os seres humanos desejarem essencialmente a beleza e a verdade e se comprazerem nelas. Por muito interessante que seja esta investigação teórica acerca da natureza destas disciplinas e das suas inter-relações, esse é apenas um dos tópicos que pode ser explorado neste campo; e, arrisco dizer, não o mais fascinante. Talvez, como o slogan dos anos 90 da famosa marca desportiva, seja mais entusiasmante «just do it»: pegar em Nabokov e ver se Agostinho ajuda a compreender as suas personagens, ou pegar em Agostinho e ver se Nabokov ajuda a iluminar os seus argumentos.