A mentalidade universal baseada na ilusória felicidade económica não deixa espaço para reflexão sobre quem somos e porque existimos realmente. Pior, hoje o «escravo social comum» renegou completamente a arte de sonhar — coisa dita imatura — para se preocupar exclusivamente com o meio de sobrevivência: «Se tenho comida na mesa, então estou a fazer o necessário»; «se emigro, é para ganhar mais dinheiro, porque no meu país trabalho como um escravo e o dinheiro não é suficiente para uma vida prazenteira». Logo, emigra-se para ter uma carga ainda mais pesada de trabalho mas ganhando mais dinheiro — dinheiro esse de que só usufruiremos 15 dias por ano, na altura das merecidas férias.

A continuidade da espécie tornou-se uma aventura desgastante com riscos elevados para todos os membros familiares. Famílias que se separam e que se agridem na expectativa de uma normalidade apática, filhos abandonados à mercê de instituições educativas que não fazem mais do que despejar a frustração de não saber transmitir valores e conhecimentos fundamentais à nossa existência enquanto seres humanos (perdoem-me os bons pedagogos, que existem, apesar de em minoria). Um amigo recebeu a visita de uma família alemã na sua casa aqui, na Ilha da Madeira. O filho de 12 anos reparou na falta de cuidado no terreno à volta da casa, e explicou meticulosamente a arte de cultivar a terra. Estudava numa escola Waldorf. Pareceu-me uma razão plausível para considerar a emigração...

As entidades governamentais repetem-se em cada ato eleitoral com promessas de um futuro melhor. Para quando acções presentes? Para quando melhorar o AGORA? O HOJE? O futuro risonho é prometido em troca de sacrifícios: «Precisamos hoje do vosso esforço, para que os vossos filhos tenham uma vida melhor no futuro!» O meus avós e os meus pais ouviram isto e sacrificaram as suas vidas. Hoje, em cada alteração governamental, já ouvi isto demasiadas vezes, e dou-me conta de que vou deixando de o ouvir e vou-me dedicando apaixonadamente ao presente, a minha filha. É feliz e terá seguramente um futuro ainda mais risonho. Sim, porque a felicidade faz-se HOJE, cultivando soluções de bem-estar.

Hoje sou um pai sonhador. Talvez por ser músico. Talvez esse contacto com o que é realmente divino, a Arte, tenha de ser a bandeira de qualquer partido político. Todos os que têm poder económico em prol da escravatura social defendem o trabalho e o pagamento obrigatório de impostos como objectivos primordiais de qualquer sociedade. Indivíduos que se esquecem de olhar o céu e de se dar conta de que somos na verdade um grão de areia no universo. Porquê uma vida de sacrifício num grão de areia suspenso no espaço?

Ficarei à espera do utópico acto eleitoral, onde um qualquer ser humano engravatado dirá: «A nossa aposta é na FELICIDADE. Temos aqui uma equipa (pedagogos, psicólogos, filósofos, artistas e sobretudo sonhadores), que se concentrará exclusivamente nisso: na felicidade presente e activados povos.»

A minha descendência concorda plenamente. Óptimo!

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