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Vanilla and Chocolate


Wisely we have been calling ourselves The Program. ‘Literary Theory’ is a flatus uocis, and philosophy and literature is no field. It is not like matter and antimatter but like vanilla and chocolate. One may believe they somehow go well together and disbelieve attempts to provide theoretical admixtures.

Unlike vanilla and chocolate many people tend to expect the wrong things from philosophy and literature. They may hope for sophistication and depth; for moral and political assurance; for a changed life; and they may see in art echoes from their philosophical concerns.

Many philosophers had known artistic inclinations; and perhaps philosophical intuitions have also occurred to artists. But it seems prudent not to turn one’s inclinations into versions of something else. One may find telling in an obscure way that Donald Davidson has played the clarinet part of Mozart’s quintet; and that Wittgenstein could whistle the clarinet parts of Mozart’s A major concerto; but there is, or need be, nothing in anomalous monism or in the private language argument that could have lent extra solidity to their musical interests; nor is philosophy illustration to clarinet music.

Whence obscurity? Some of us acknowledge that there are advantages to putting together arguments and not-quite arguments, fictions and not-quite fictions, and motley retrospections and associations. However, even if, as Richard Rorty famously remarked, philosophy is a kind of writing, it is only trivially so: economics and physics are after all also a kind of writing, and so is literature, and most often very bad writing all. We admire the prose of a few philosophers, and a few writers, but there is not much to add to our statements of admiration.

The problem seems to be with the notion that critical inquiry consists in uttering statements of admiration, either for long-dead poets or for philosophical papers generated in the previous year. Such utterances may often don the appearance of backhanded compliments, even of arguments: but they remain essentially interjective. That you can talk the talk has long been shown to be an insufficient criterion for anything’s qualifying as philosophy, or art, or indeed talk. Instead, ideas and arguments are born from resemblance and association – and, too, from admiration. Critical inquiry moves by happenstance and example.

The principle thus should be prudential: that of not excluding any promising grounds for association and resemblance; and not believing that there are grounds essential to the right kind of resemblance. Mixing together philosophy and literature should not be forbidden under the Epistemological Act; nor should it be required under the Holistic Creed.

That the principle is prudential, alas, means that it does not answer any of the essential questions. These are the questions philosophers and the many aspiring in-betweens should perhaps consider, through resemblance and association: What are resemblances for? Of what are examples examples? What, in short, are we doing, in these secluded places, trying to be clear about very obscure things? How is one to account for one’s time? And to whom?


PT

Chocolate e Baunilha


Sabiamente falamos de nós como o Programa. ‘Teoria da literatura’ é um flatus uocis, e filosofia e literatura não é um campo. Não é como matéria e anti-matéria, mas como chocolate e baunilha. Podemos achar que ficam bem juntas, e não acreditar que seja preciso cimento teórico para as juntar.

Ao contrário do chocolate e da baunilha, muitas pessoas esperam coisas erradas da junção da filosofia e da literatura. Têm expectativas de sofisticação e profundidade; de conforto moral e político; esperanças numa vida nova; e podem mesmo detectar na arte os ecos das suas preocupações filosóficas.

Muitos filósofos tiveram inclinações artísticas conhecidas; e possivelmente intuições filosóficas ocorreram a artistas. Parece porém prudente não converter as nossas inclinações em versões de outras coisas. Podemos considerar significativo, num sentido obscuro, que Donald Davidson tenha tocado a parte de clarinete do quinteto de Mozart; e que Wittgenstein soubesse assobiar a parte de clarinete do concerto em lá maior; mas não existe, ou tem de existir, nada na noção de monismo anómalo, ou no argumento sobre a linguagem privada que acrescente solidez aos seus interesses musicais; nem a filosofia é uma ilustração do repertório para clarinete.

De onde vem esta obscuridade? Alguns de nós reconhecem que há vantagens em juntar argumentos e quase-argumentos, ficções e quase-ficções, e retrospecções e associações variadas. No entanto, mesmo que, como Richard Rorty famosamente observou, a filosofia seja uma espécie de escrita, é-o apenas num sentido trivial: a economia, a literatura e a física são também uma espécie de escrita, e na maior parte dos casos escrita muito má. Admiramos a prosa de alguns filósofos, e de alguns escritores, mas não há muito a acrescentar às nossas declarações de admiração.

O problema parece ter a ver com a ideia de que a actividade intelectual consiste em declarações de admiração, seja por poetas mortos seja por artigos de filosofia gerados no último ano. Tais declarações podem até parecer-se com cumprimentos enviesados, ou mesmo com argumentos: mas continuam a ser essencialmente interjeições. Há muito tempo que se mostrou que usar as palavras certas é um critério insuficiente para podermos considerar uma coisa como filosofia, como arte, ou aliás como um uso verbal. Pelo contrário, as ideias e os argumentos nascem da semelhança e da associação – e também da admiração. A actividade intelectual progride de modo fortuito, e através de exemplos.

O nosso princípio deve portanto ser prudencial: não excluir nenhuma associação e semelhança prometedora; e não acreditar que existem elementos capazes de gerar inevitavelmente o tipo certo de semelhança. Misturar filosofia e literatura não deve ser proibido pela Lei de Bases da Epistemologia; e não deve ser requerido pelo Catecismo Holístico.

O facto de este princípio ser prudencial significa que, infelizmente, não responde a nenhuma das perguntas essenciais. Tais perguntas deviam talvez ser consideradas, através de semelhanças e associações, por filósofos e para-filósofos: a que se assemelham as semelhanças? De que são exemplos os exemplos? Em suma, o que é que andamos a fazer por estes sítios recatados a tentar esclarecer coisas tão obscuras? Como é que justificamos o uso do nosso tempo? E a quem o fazemos?