Inês Amado da Silva
Qual é, exactamente, a diferença entre um motel e um hotel? Substitua-se a pergunta por uma equivalente: qual é a diferença entre arte verdadeira e arte falsa? Poder-se-ia responder que a diferença reside, em ambos os casos, no que valem em dinheiro, a força centrifugadora de A Estupidez — o dinheiro é vital para a acção da peça, impondo-se como origem dos acontecimentos e relegando para segundo plano as verdadeiras causas do que vemos acontecer em palco. Mas o texto de Rafael Spregelburd mostra, na sua totalidade, muitas vezes resumida em frases soltas, uma reflexão que complexifica esta acção centrifugadora: o dinheiro também exerce a sua força de uma forma centrípeta, chamando a si as motivações da acção humana, que convergem no leitmotiv do dinheiro como que atraídas pelo olho de um furacão. A habilidade exímia do autor consiste precisamente em tornar a peça confusa, risível, ou apenas aparentemente estúpida e desprovida de um sentido, como a vida normal parece ser. Spregelburd consegue expor a lógica contraditória que caracteriza a estupidez conferindo esta mesma lógica à estrutura da peça.