JORGE ALMEIDA
No segundo capítulo de Expedição Nocturna à Volta do Meu Quarto (p. 119), Xavier de Maistre conta como impediu que o seu criado fugisse com um cofre que pertencia ao próprio de Maistre: “Alcancei-o facilmente e, sem dizer nada, caminhei ao lado dele algum tempo sem me reconhecer. Se quiséssemos descrever a expressão de espanto e de temor levada ao extremo no semblante humano, poderia ele servir de modelo perfeito no momento em que deu por mim a seu lado. Tive todo o vagar para fazer esse estudo; com efeito, estava tão desconcertado com o meu aparecimento inesperado e com a cara séria com que o olhava, que prosseguiu algum tempo comigo sem dizer palavra, como se estivéssemos os dois de passeio”.
Jorge Almeida
Numa conversa entre duas personagens do romance Ilusões Perdidas de Balzac, um jornalista experiente aconselha o aspirante a jornalista Lucien de Rubempré, dizendo-lhe: “Fais un peu de statistique, science assez utile quand on n'en abuse pas.” Só parte do conselho, aquela que antecede a vírgula, parece ter chegado aos ouvidos do antigo jornalista David M. Friedman, autor de Wilde in America: Oscar Wilde and the Invention of Modern Celebrity (2014), uma vez que nesta obra o autor parece considerar que um relato alagado em estatísticas da tournée de conferências que Wilde fez nos Estados Unidos da América em 1882 é suficiente para explicar em que consiste a invenção de um processo que permite a qualquer um passar do anonimato ao estrelato e de que forma esse processo se tornou paradigmático nos nossos dias.