Por Telmo Rodriges
Livros que tentam abordar a música enquanto arte tendem a dividir-se em dois tipos. Num lado do espectro estão os livros em que a prosa tenta, de alguma forma, emular aquilo que os autores sentem ao ouvir música, como se uma descrição das sensações que se tem ao ouvir música constituísse a melhor maneira de explicar a arte; no outro lado do espectro estão os livros que pretendem exactamente o oposto, explicar a música enquanto um conjunto de regras e relações que não dependem de factores emotivos, livros técnicos que parecem obrigar os leitores a anos de estudo de conservatório para os poderem perceber. O novo livro de David Byrne, How Music Works (Como Funciona a Música), parece situar-se entre estas duas posições embora, e a favor do autor, se declare explicitamente pelo lado técnico.
Por Maria Sequeira Mendes
Todos adiamos tarefas, mas os procrastinadores fazem-no de modo crónico, procurando distracções que os levem a protelar o trabalho que têm em mãos. A capacidade de se adiar indefinidamente uma obrigação pode, todavia, ser produtiva se considerarmos, como John Perry, que no acto de se evitar uma tarefa se realizam muitas outras igualmente importantes. A esta particularidade chama o filósofo "procrastinação estruturada", um conceito descrito no seu mais recente livro, cujo título parece conter um programa de adiamento da leitura: The Art of Procrastination: A Guide to Effective Dawdling, Lollygagging and Postponing... Or, Getting Things Done by Putting Them Off.
Por Nuno Amado
Sempre que, com o objectivo de descrever a escrita de Kafka, se utilizam adjectivos como “pessimista”, “melancólica” ou “neurótica”, fico com a impressão de que nunca se leu o conto sobre o celibatário Blumfeld e se devia dormitar enquanto se liam alguns episódios d’O Processo, como aquele em que Joseph K. surpreende um algoz com roupas de couro a açoitar, numa arrecadação, os dois homens que, no início do romance, lhe tinham aparecido no quarto a anunciar a prisão. Ora, é precisamente em não ser esse o caso deste pequeno livrinho que reside um dos méritos — talvez o mais saliente — da apreciação kafkiana que nele se desvela.
Por Gustavo Rubim
Ninguém parece formar uma ideia de conjunto particularmente nítida acerca da prosa literária que se escreve agora em português. Talvez nem faça falta. Uma hipótese simples é a de que, salvo alguma obra de maior alcance público, parte dessa prosa esteja a renovar-se por via de experiências discretas. Experiências, naquele sentido em que a palavra se consagrou para designar a atitude que prefere avançar por tentativas do que pelo traçar de projetos.