Marana Borges
Mulheres de pele morena à beira do mar. Algumas vezes sentadas, outras vezes em pares, compondo um plano de formas sinuosas e cores quentes. São tais imagens que nos vêm à tona ao falar de Paul Gauguin (1848-1903). O vocabulário para descrever o artista francês em geral acantona-se em poucas palavras: trópicos; Tahiti; exotismo. Posicionar-se contra esse reducionismo é o ponto forte de Gauguin, L'Alchimiste, exposição no Grand Palais que reúne duzentas e trinta obras, com empréstimos especiais do National Galery of Art (Chicago), do museu D'Orsay (Paris) e do Pushkin State Museum of Fine Arts (Moscou).
Marana Borges
Todorov (Sófia, 1939 – Paris, 2017) foi um homem que acreditou em outros homens. Um esperançoso, diriam alguns. Ou um humanista. Talvez por isso tenha aos poucos migrado da Literatura — campo em que se consagrou ao traduzir os principais textos do formalismo russo do início do século XX — para a Antropologia, a História das Ideias e a Política: parecia fazer um acerto de contas com sua juventude na Bulgária comunista, dispondo-se a criticar os totalitarismos e a examinar outras formas de conviver em sociedade. Sua aposta pela busca da justiça, em última instância, encurralaria os Estudos Literários em uma dimensão moralmente edificante.
Marana Borges
É uma manhã cinzenta, como são as manhãs inglesas, com poucos contrastes de cor (e de emoções). Verde escuro, tonalidades de marrom, cinza. O céu nublado distingue-se do chão de relva mais por nuance que por oposição. Nesse demorado plano geral, acompanhamos de longe o passeio campestre de uma mulher ao encontro de seu cachorro, sempre à frente, sempre fora do alcance. O começo resume a ideia do filme: é sobre distâncias que ele nos falará — entre um casal de idosos sem filhos; entre quem pensamos ser e quem nos descobrimos sendo; aquilo que julgamos conhecer do outro e o que o outro mesmo desconhece sobre si; onde estamos hoje e o que escolheríamos para nossas vidas quando ainda não era tarde demais.
Marana Borges
«Ele me fascina, me fascina como um monstro.»* É assim que Alberto Giacometti (1901-1966) fala sobre Pablo Picasso (1881-1973) a Stravinsky, lembrando a amizade que tiveram em Paris durante a Segunda Guerra Mundial. Também é exatamente este o tom da exposição Picasso-Giacometti, no Museu Picasso de Paris: uma tentativa de evidenciar a amizade entre ambos que termina por tecer uma relação essencialmente assimétrica. Da obra de Giacometti ficamos com uma visão pouco elogiosa, enquanto o espanhol de Málaga instaura-se como um gênio assombroso e incomparável.
Marana Borges
Ele dorme. A pouca luz que escapa quarto adentro basta para anunciar o dia, entorná-lo sobre as suas costas de garoto, insinuar na cintura a beleza oblíqua da adolescência. Todo o filme é essa pintura de um verão passado às sombras. Porque faz calor; é preciso salvar-se. Mas também é preciso salvar-se dos outros, e a penumbra é a que melhor alberga as formas, os corpos, os medos.