Tiago Fonseca
Dimitris Papaioannou põe em cena espectáculos em que a imagem e o movimento são o foco principal. A coordenação e interacção de corpos humanos é importante, mas isso não o leva a considerar-se um coreógrafo de dança. Normalmente, está preocupado com o corpo não apenas no espaço, mas em relação com outros objectos que levantem problemas. Começou por ser pintor e desenhador antes de se dedicar à arte performativa, e esse ímpeto inicial para criar imagens sobre uma superfície plana está muito presente no espectáculo agora em digressão, exibido no CCB nos passados dias 10 e 11 de Dezembro.
Inês Ramos
Na sequência de A Metáfora ou a Tristeza Virada do Avesso (2015), A Metamorfose dos Pássaros (2020) é um filme autobiográfico centrado nas figuras da avó e da mãe de Catarina Vasconcelos. Beatriz e Ana, respectivamente, são abordadas de um modo que evoca «as mães de todas as mães» e excede as circunstâncias particulares da realizadora e do seu pai, ambas definidas pelo luto. Num primeiro momento, a acção avança acompanhando a família de Beatriz e Henrique, a correspondência trocada entre o casal e o crescimento dos filhos, sobretudo de Jacinto, o pai de Catarina. O foco no passado convive com as considerações que o narrador tece a partir do presente. Não há muitos diálogos entre as personagens, por isso, essas considerações ganham especial relevância na condução da perspectiva do espectador. Ainda mais porque partem de um conhecimento profundo dos acontecimentos para sugerir modos mais gerais de entender a vida, a morte e as relações humanas. Num movimento filosófico que assinala a passagem para o segundo momento do filme, o narrador compara Beatriz às árvores mais antigas da floresta, defendendo que as mães permanecem vivas na memória de quem lhes perserva as raízes. No fundo, para defender que a morte não anula a influência que as pessoas exercem sobre os outros, mesmo quando passa muito tempo e se renovam gerações.