Telmo Rodrigues
Numa das trinta crónicas que compõem o livro A Ganhar ou a Perder, descrevendo um lance que se passa perto da baliza do topo norte do estádio de Alvalade, Mário Lopes afirma que «desde a bancada sul, não se percebe nada do que se passa» (p. 99). A afirmação é verdadeira e posso confirmá-la pelo simples facto de também eu me sentar nessa bancada, tão longínqua da «baliza pequena», nome usado por oposição à «baliza grande», aquela que fica junto ao topo sul, onde estão as claques do Sporting Clube de Portugal, e onde tanto eu como o autor nos sentamos quinzenalmente (num mundo ideal) para ver o nosso clube jogar.
Rodrigo Almeida e Sousa
Não deve ser só impressão minha. Lembro-me de ver, na velha estante do meu avô, o Discurso do Método assinado por «Renato» Descartes e sentir de imediato a ironia a correr-me nos axónios. Corrijam-me se estiver errado, mas parece-me que não sou o único a, no mínimo, sorrir ante traduções literais de nomes, terriolas, negócios locais, ou comidas. Existe, porém, uma grande diferença entre o filósofo francês e as personagens de Louis C.K.: enquanto René não é de todo um «Renato», Horace e Pete são efectivamente, ou quase, um «Horácio» e um «Pedro». Embora «Horácio» não seja por cá muito frequente, nem porventura tradicional, não deixa de soar à antiga; quanto a «Pedro», corresponde na perfeição às características pretendidas.
Pedro Tiago Ferreira
Paul Eggert sums up Securing the Past by stating that it “is the first book to bring the arts of restoration together to examine their linked, underlying philosophies.” (p. 9) The arts of restoration to which Eggert alludes encompass what is done in the field of Art lato sensu, which includes, as the subtitle of Securing the Past makes clear, Architecture and Literature, besides Art stricto sensu. I shall use the term “Art,” in this review, in its restricted sense to mean painting and sculpture, as these are the art forms with which Eggert is mainly concerned.
João Pedro Vala
Antes de lermos o terceiro volume da trilogia que Marylinne Robinson agora conclui tudo o que sabíamos acerca de Lila era apenas que tinha criado uma certa empatia com Jack, o filho pródigo do reverendo Robert Boughton, e que se casara com o pastor John Ames, depois de, num dia de chuva em que “there was no other doorway for her to step into” (página 11), ter entrado na Igreja onde Ames pregava. A narrativa desloca-se assim para o lado e alternadamente para a frente e para trás, contando-nos não só a história de Lila e John Ames mas também o que se passou com Lila antes de chegar a Gilead.
Elizabete M. de Sousa
Comecemos por uma brevíssima contextualização dos dois mais recentes livros de Pedro Mexia na sua variada produção. Biblioteca é o sexto livro de crónicas desde 2006, dos publicados em Portugal, e reúne sessenta e cinco crónicas inicialmente saídas em dois jornais, Público e Expresso, entre Março de 2008 e Março de 2015. É pois de assinalar que este volume inclui textos cuja génese será contemporânea de cinco dos seis livros de crónicas anteriormente editados.
Marana Borges
Ele dorme. A pouca luz que escapa quarto adentro basta para anunciar o dia, entorná-lo sobre as suas costas de garoto, insinuar na cintura a beleza oblíqua da adolescência. Todo o filme é essa pintura de um verão passado às sombras. Porque faz calor; é preciso salvar-se. Mas também é preciso salvar-se dos outros, e a penumbra é a que melhor alberga as formas, os corpos, os medos.
Helena Carneiro
Aceitar o que nos acontece não nos exime de responsabilidade; o truque está em percebermos que quaisquer que sejam os termos definidos, esses mudam no decurso do que vamos vivendo. As tentativas de equilíbrio e controlo que fazemos são para lidar com o que inevitavelmente teve de ser deixado para trás e com o que inevitavelmente nos deixou para trás. Munro sabe que não há acordos possíveis com o universo, apenas connosco.
Ana Ferraria
Il cavaliere inesistente, publicado em 1958, é o último volume da trilogia de Italo Calvino, trilogia essa que o autor reeditará, em 1960, com o título Os Nossos Antepassados (I nostri antenati), e com a qual pretende fazer despertar no homem contemporâneo do pós Segunda Guerra Mundial a consciência da raiz dos seus problemas. Calvino irá criar personagens e situações que lhe possibilitem levar ao extremo as dificuldades que pretende tratar