Viewing entries tagged
Pedro Franco

211. Jonathan Lear, Imagining the End: Mourning and Ethical Life

211. Jonathan Lear, Imagining the End: Mourning and Ethical Life

Pedro Franco

In a section of an episode of the second season of The White Lotus (episode 6: “Abductions”), a young lad from Essex and a Californian au pair of sorts find themselves sitting idly at a dock in sunny Sicily, drinking beer and eating ice cream. They are having a meaningful, yet unusual discussion given the superficial relationship they entertain: Portia, the Californian girl, is wondering whether her friend Jack has any “goals”, to which he responds with perplexity: what does she mean by that? Portia’s blurry conception of a life goal seems rather unsatisfactory: “Be satisfied. That’d be nice.” Her desire to be one level up is contrasted by Jack’s one-day-at-a-time kind of attitude. Jack’s carelessness is (perhaps artificially) grounded on the impossibility of controlling the future, whether one will continue to live tomorrow or not, and then the debate shifts to a fundamental disagreement about the state of the world: while Portia thinks that the world is a “fucked up place”, Jack à-la-Pangloss thinks we live in the best one possible. After all, humans live in the greatest planet in the universe, and it is a miracle that we have survived centuries of mutual destruction, he says.

207. Natalia Carrillo & Pau Luque, Hipocondría Moral

207. Natalia Carrillo & Pau Luque, Hipocondría Moral

Pedro Franco

Susan Sontag reflectia em 2003, no pico da «guerra ao terror», que a aparente insensibilidade que resulta da exposição excessiva a imagens de miséria e violência esconde, afinal, uma enorme dose de raiva e frustração, a que não somos capazes de dar vazão.[i] Poderíamos dizer que é desta camada escondida que surge, nos antípodas do torpor e da anestesia, a hipocondria moral, um fenómeno característico da nossa época, a que não é alheia a consolidação da pequena burguesia ou, em termos porventura menos carregados de ideologia, das classes médias. E, por isso, não é estranho o teor psicanalítico desta ideia (a popularidade da psicanálise é, também ela, um fenómeno burguês ou de classe média). É, portanto, neste espectro social que se situa a disquisição dos filósofos Natalia Carrillo (filósofa da ciência da Universidade de Viena) e Pau Luque (filósofo do direito da Universidade Nacional Autónoma do México), no ensaio que acabam de publicar pela Anagrama.

152. Alasdair MacIntyre, Ethics in the Conflicts of Modernity

152. Alasdair MacIntyre, Ethics in the Conflicts of Modernity

Pedro Franco

Aristóteles, São Tomás de Aquino e Marx. Não os costumamos ver juntos à mesa, mas são estes os autores de referência de Alasdair MacIntyre, uma das figuras mais cativantes do actual panorama filosófico. MacIntyre faz parte de uma corrente heterodoxa da ética (moral philosophy) que a libertou de uma subjugação à filosofia da linguagem, fazendo-a florescer de novo, o que constitui, desde logo, um motivo de interesse para o ler. Tem sido também invariavelmente uma voz de minorias: escocês em Inglaterra e nos E.U.A., marxista no mundo capitalista e depois católico num mundo académico secular.

139. The National, Sleep Well Beast

139. The National, Sleep Well Beast

Pedro Franco

Vencedor do Grammy de «Melhor Álbum de Música Alternativa», Sleep Well Beast vem marcar um ponto de viragem na sonoridade dos The National. Os fãs da velha guarda têm bons motivos para se queixar desta revolução sónica que Matt Berninger, o vocalista, refere com entusiasmo em entrevista à NME (25 Junho 2017): à malha das guitarras e das baterias sobrepõe-se, em muitas faixas, o sintetizador; recorre-se a loops; escutam-se outras cordas mais sofisticadas e mesmo coros de vozes contrastantes com o barítono de Berninger. A composição, em suma, torna-se mais complexa e não tão sincera, como talvez diriam os adeptos daquilo a que muitos chamam «college rock». O ouvinte impreparado agradece. Está diante de um dos álbuns mais desconcertantes do ano de 2017 — e é esse desconcerto que cativa.