Maria Sequeira Mendes
Em Missing Out – In Praise of the Unlived Life, Adam Phillips, autor, psiquiatra e crítico literário nos tempos livres, examina as vidas que não vivemos, ou seja, a forma como tornamos o nosso dia-a-dia mais aprazível e, como refere, suportável, ao imaginarmos outros modos de existência.
Hugo Pinto Santos
Depois de alguma juvenília (Poema Seis, O Meu Nome e A Noite, Sobregelofino, ainda assinados como Luís Brito Pedroso) e de poemas dispersos nas revistas Criatura e Piolho, Romance ou Falência é o sucessor de Princesas Dianas & Anti-Heróis (2009, Ed. do Autor). Relativamente ao anterior, o presente livro de L. Pedroso apresenta um progresso notório. Além de desbastar alguma rugosidade ainda notada nesse registo (e que surgia, como é natural, ainda mais evidente em volumes anteriores), depõe certo desgoverno metafórico que obstava a alguns poemas.
Joana Corrêa Monteiro
Existe um lado megalómano em qualquer enciclopédia. A ideia de reunir todo o conhecimento, ou todo o conhecimento de uma determinada área, parece ambiciosa de mais para poder ser levada a sério. Qualquer enciclopédia, nesse sentido, está votada ao fracasso. Ninguém no seu perfeito juízo imaginará ficar a saber tudo o que existe para saber por ter lido uma enciclopédia (aliás, poucas pessoas, no seu perfeito juízo, lerão enciclopédias). E, contudo, as enciclopédias têm a sua utilidade: servem, por exemplo, para se ficar rapidamente esclarecido a respeito de qualquer coisa, ou para desempatar conversas ou apostas sobre datas, inventores famosos ou nomes de cidades.
Hugo Pinto Santos
Ainda será possível «fazer literatura com o revólver no bolso» (Richard Huelsenbeck)? Sim, porque a revolta e desobediência de Tzara & companhia perduram naqueles cujas antenas receptoras não calcificaram, os que não assimilaram o esquema evolutivo que prescreve a abolição e a consequente integração das vanguardas nos sistemas da arte. Se é esta a função delas, não é esse o destino irrevogável dos autores que se movem nas franjas de considerandos como o que prevê que a uma ruptura tenha de se seguir a sutura. No plano da poesia portuguesa, um nome assoma que agrega, de forma magnética, todos esses hipotéticos estilhaços: Alberto Pimenta.
Frederico Pedreira
O nome do poeta norte-americano John Berryman (1914-1972) poderá não dizer muito ao público português. Figura fragilizada, com um percurso de vida acidentado, Berryman foi professor universitário nas universidades de Princeton, Harvard, Iowa e Minnesota, tendo publicado dois livros que são representantes dos seus interesses e do comprometimento sério com assuntos literários: Berryman's Shakespeare e Stephen Crane: A Critical Biography. Diz-nos a nota biográfica das 77 Oníricas: “[m]aníaco-depressivo e alcoólico, assombrado pelo suicídio do pai e por uma vida conjugal tumultuosa, John Berryman atirou-se de uma ponte sobre o Rio Mississípi a 7 de Janeiro de 1972.”
João Pedro Vala
Não é possível ler um diário de preces sem sentirmos a necessidade de descalçar as nossas sandálias. Este Um Diário de Preces, escrito por Flannery O’Connor (1935-1964) aos vinte anos de idade e traduzido agora para português pela Relógio d’Água, acompanhado de um fac-símile do caderno original, é em muitos momentos difícil de compreender, não só por culpa das várias páginas rasgadas pela escritora, mas essencialmente por ser uma conversa entre ela e Deus, uma conversa em que entramos forçosa e violentamente a meio; uma conversa para a qual, aliás, não fomos sequer convidados.
Telmo Rodrigues
Em 2011, a separação de Kim Gordon e Thurston Moore, o casal que esteve na origem dos Sonic Youth, apanhou todos de surpresa: uma relação de trinta anos e um casamento de vinte e sete acabavam, pondo fim à banda e ao sonho que muitos alimentavam de manter uma relação familiar funcional ao mesmo tempo que se mantém uma produção artística relevante (neste caso particular, alguma da música mais relevante das últimas décadas). Na sequência do divórcio, Kim Gordon retomou, de forma mais activa, a sua relação com a arte, dedicando-se a vários projectos, um dos quais a publicação de um livro de ensaios sobre vários tipos de arte editado por Branden W. Joseph (Is It My Body?, 2014). Nesse livro, que colige ensaios da autora desde finais dos anos setenta, uma das preocupações centrais é o lugar da mulher na arte e na música, e, mais especificamente, o lugar de Gordon numa banda de homens (até a sua posição no palco é alvo de escrutínio).
Hugo Pinto Santos
Quem pode – questiona algures Dostoievski – conhecer-se a si próprio e respeitar-se? Esta interrogação podia ser o antepassado mais ou menos afastado de todas as castas de abjeccionismo. Até dos que, realmente, não o são. A autodepreciação que se pode intuir no narrador e nas efabulações de Um Bárbaro em Casa seriam, quando muito, uma declinação irónica e contida, reflexiva mas desprendida, dessa antiguidade. Essa prerrogativa advém-lhe de algo que tem que ver com os seus constituintes internos, com a sua engenharia profunda, se for possível exprimir assim o que está longe dessa tentativa de terminologia tão-só aproximativa. Onde talvez pudéssemos escavar a raiz destes escritos, existe um esfacelamento de géneros que, neste caso, se revelou eximiamente profícuo.
RODRIGO ABECASIS
A última obra de Fernando Guedes é composta por quatro conferências que foram apresentadas à Academia de Ciências de Lisboa. O livro divide-se em quatro ensaios, os dois primeiros dedicados a Eliot e os restantes dois dedicados a Pound. A estrutura do livro é concisa e económica, e os quatro ensaios, demonstrando confiança na familiaridade do autor com estes dois poetas norte-americanos, demonstram também a sua erudição sem no entanto serem ensaios maçadores, técnicos, ou de difícil leitura.
JOANA CORRÊA MONTEIRO
What Happened in and to Moral Philosophy in the Twentieth Century? é uma colectânea de ensaios, a maioria dos quais foram apresentados em Dublin, em 2009, numa conferência que assinalou os 80 anos de vida de Alasdair MacIntyre. Este autor ocupa um lugar marcante na história recente da filosofia, concretamente nas áreas da ética, filosofia moral e filosofia política, mas leitores interessados em filosofia da acção, história, sociologia, ou até teologia poderão encontrar nesta publicação alguns pontos de dignos de atenção.