90. Hans Ulrich Obrist, com Asad Raza, Ways of Curating + David Balzer, Curationism: How Curating Took Over the Art World and Everything Else

90. Hans Ulrich Obrist, com Asad Raza, Ways of Curating + David Balzer, Curationism: How Curating Took Over the Art World and Everything Else

Tomás N. Castro

A Art Basel é uma das principais feiras de arte da actualidade; todos os anos o evento tem lugar na sua cidade natal — Basileia, na Suíça — e, adicionalmente, em três outras cidades; uma das localizações da feira onde o volume de negócios é assaz significativo e onde estão presentes galerias e coleccionadores poderosos é Miami Beach, na Florida. Na edição de 2013, quem esteve pelas praias da costa do Atlântico pôde ver, durante os dias que durou o importante evento, uma pequena avioneta alugada que fazia voar fitas com mensagens; mas, ao invés da habitual publicidade a festas em discotecas, estas fitas continham um tipo de preces muito invulgares: numa delas, por exemplo, lia-se «HANS ULRICH OBRIST HEAR US»

89. Marguerite Duras, Dias Inteiros nas Árvores & Savannah Bay

89. Marguerite Duras, Dias Inteiros nas Árvores & Savannah Bay

Ana Ferraria

Da vontade de trazer para o papel os textos encenados pela companhia de teatro Artistas Unidos nasceu, em parceria com a editora Cotovia, a colecção Livrinhos do Teatro que, com a publicação em Novembro de 2016 de Dias Inteiros nas Árvores & Savannah Bay, de Marguerite Duras, ultrapassou a primeira centena de títulos. A tradução portuguesa de Dias Inteiros nas Árvores, a cargo de Vieira de Lima, estreou em 1992, e a de Savannah Bay, de António Barahona, em 1985.

88. David Konstan, Beauty: The Fortunes of an Ancient Greek Idea

88. David Konstan, Beauty: The Fortunes of an Ancient Greek Idea

Inês Morais

The problem of beauty is vital to all those concerned with art. Even in an era in which a lot of the art that is produced seems divorced from the notion of beauty, the public and, with the public, common sense, is still sensitive to the beautiful creations of artists.

87. Picasso-Giacometti

87. Picasso-Giacometti

Marana Borges

«Ele me fascina, me fascina como um monstro.»* É assim que Alberto Giacometti (1901-1966) fala sobre Pablo Picasso (1881-1973) a Stravinsky, lembrando a amizade que tiveram em Paris durante a Segunda Guerra Mundial. Também é exatamente este o tom da exposição Picasso-Giacometti, no Museu Picasso de Paris: uma tentativa de evidenciar a amizade entre ambos que termina por tecer uma relação essencialmente assimétrica. Da obra de Giacometti ficamos com uma visão pouco elogiosa, enquanto o espanhol de Málaga instaura-se como um gênio assombroso e incomparável.

86. Neil MacCormick, Questioning Sovereignty

86. Neil MacCormick, Questioning Sovereignty

Pedro Tiago Ferreira

Questioning Sovereignty is the first volume of a quartet titled Law, State and Practical Reason. The other volumes are Rhetoric and the Rule of Law (2005), Institutions of Law (2007) and Practical Reason in Law and Morality (2008). The author of these works, Neil MacCormick, a Scottish and British national, died in 2009. He was a Professor of Law at Edinburgh University whose specialty was Jurisprudence, Legal Theory and Philosophy of Law. His academic functions were suspended between 1999 and 2004, as he was elected Member of the European Parliament for the Scottish National Party. During his tenure as Member of the European Parliament he also served as member of the Convention on the Future of Europe between 2002 and 2003, the body responsible for the Draft Treaty establishing a Constitution for Europe, which did not come into force as it was rejected after referenda held in France and Holland. As international treaties must be ratified by the party in question before they are applicable to it, a Constitution for Europe designed to substitute a full-fledged federal state for what is now known as “European Union” would only be feasible if all its member states were to ratify it. Notwithstanding the positive results obtained in referenda held in Spain and Luxembourg, the rejections in France and Holland halted the process in the remaining member states and induced a “period of reflection” which culminated with the removal, from the text of the Treaty, of all federal references. The result is the Treaty of Lisbon, which entered into force in 2009 and instituted the European Union.

85. Johnny Cash, Forever Words

85. Johnny Cash, Forever Words

Telmo Rodrigues

It is only fitting that Johnny Cash’s Forever Words: The Unknown Poems was published in late 2016, only a few weeks after Bob Dylan was awarded the Nobel Prize in Literature. It is not fitting for the dignity Dylan’s prize bestowed upon singers and songwriters (although some was indeed bestowed), and it is not fitting because it entitles the editor of the volume, Paul Muldoon (himself a poet), to select lyrics of songs Cash never recorded and call them “poems”; what makes the publishing timing for this book perfect is the public discussion, aroused by Dylan’s award, about the validity of counting songwriting as literature, for this volume represents the unflawed way to end the discussion: to present a book of good poetry.

84. Peter Kivy, The Performance of Reading: An Essay in the Philosophy of Literature

84. Peter Kivy, The Performance of Reading: An Essay in the Philosophy of Literature

Inês Morais

In 2010 I published in the journal Disputatio a review of Peter Kivy’s book The Performance of Reading (1). The book promised a revisionary account of the activity of reading literature, one that clashes with current common-sense views. It is prudent to listen to common-sense and learn from tradition, but, at times, widespread, even ingrained beliefs are just falsehoods. Entire communities can be, and sometimes are, mistaken, deluded, for instance when they misinterpret the evidence or when they miss or ignore some detail that matters. And often, mistaken views breed more mistaken views, so it is important that philosophy uncovers and corrects mistakes. Kivy’s book aimed at countering what he considered to be an error in common-sense views of literature reading. At the time, I claimed that Kivy’s arguments against common-sense were not compelling enough for us to abandon common-sense. I was wrong.

83. Stephen King, Under the Dome

83. Stephen King, Under the Dome

Pedro Tiago Ferreira

In Under the Dome, a long and thrilling book, Stephen King caricaturises several problems which are transversal to all human societies. The environmental question posed by the greenhouse effect, the economic problem of scarcity of resources, the crumbling of law and justice before rhetorical demagogy, which is connected to the perversion of political power for personal rather than public use, are some of the issues King cleverly engages in this well-written and well-structured novel.

82. Mário Lopes, A Ganhar ou a Perder: Um Ano de Sporting

82. Mário Lopes, A Ganhar ou a Perder: Um Ano de Sporting

Telmo Rodrigues

Numa das trinta crónicas que compõem o livro A Ganhar ou a Perder, descrevendo um lance que se passa perto da baliza do topo norte do estádio de Alvalade, Mário Lopes afirma que «desde a bancada sul, não se percebe nada do que se passa» (p. 99). A afirmação é verdadeira e posso confirmá-la pelo simples facto de também eu me sentar nessa bancada, tão longínqua da «baliza pequena», nome usado por oposição à «baliza grande», aquela que fica junto ao topo sul, onde estão as claques do Sporting Clube de Portugal, e onde tanto eu como o autor nos sentamos quinzenalmente (num mundo ideal) para ver o nosso clube jogar.

81. Louis C.K., Horace and Pete

81. Louis C.K., Horace and Pete

Rodrigo Almeida e Sousa

Não deve ser só impressão minha. Lembro-me de ver, na velha estante do meu avô, o Discurso do Método assinado por «Renato» Descartes e sentir de imediato a ironia a correr-me nos axónios. Corrijam-me se estiver errado, mas parece-me que não sou o único a, no mínimo, sorrir ante traduções literais de nomes, terriolas, negócios locais, ou comidas. Existe, porém, uma grande diferença entre o filósofo francês e as personagens de Louis C.K.: enquanto René não é de todo um «Renato», Horace e Pete são efectivamente, ou quase, um «Horácio» e um «Pedro». Embora «Horácio» não seja por cá muito frequente, nem porventura tradicional, não deixa de soar à antiga; quanto a «Pedro», corresponde na perfeição às características pretendidas.

80. Paul Eggert, Securing the Past: Conservation in Art, Architecture and Literature

80. Paul Eggert, Securing the Past: Conservation in Art, Architecture and Literature

Pedro Tiago Ferreira

Paul Eggert sums up Securing the Past by stating that it “is the first book to bring the arts of restoration together to examine their linked, underlying philosophies.” (p. 9) The arts of restoration to which Eggert alludes encompass what is done in the field of Art lato sensu, which includes, as the subtitle of Securing the Past makes clear, Architecture and Literature, besides Art stricto sensu. I shall use the term “Art,” in this review, in its restricted sense to mean painting and sculpture, as these are the art forms with which Eggert is mainly concerned.

79. Marilynne Robinson, Lila

79. Marilynne Robinson, Lila

João Pedro Vala

Antes de lermos o terceiro volume da trilogia que Marylinne Robinson agora conclui tudo o que sabíamos acerca de Lila era apenas que tinha criado uma certa empatia com Jack, o filho pródigo do reverendo Robert Boughton, e que se casara com o pastor John Ames, depois de, num dia de chuva em que “there was no other doorway for her to step into” (página 11), ter entrado na Igreja onde Ames pregava. A narrativa desloca-se assim para o lado e alternadamente para a frente e para trás, contando-nos não só a história de Lila e John Ames mas também o que se passou com Lila antes de chegar a Gilead.

78. Pedro Mexia, Biblioteca / Uma vez que tudo se perdeu

78. Pedro Mexia, Biblioteca / Uma vez que tudo se perdeu

Elizabete M. de Sousa

Comecemos por uma brevíssima contextualização dos dois mais recentes livros de Pedro Mexia na sua variada produção. Biblioteca é o sexto livro de crónicas desde 2006, dos publicados em Portugal, e reúne sessenta e cinco crónicas inicialmente saídas em dois jornais, Público e Expresso, entre Março de 2008 e Março de 2015. É pois de assinalar que este volume inclui textos cuja génese será contemporânea de cinco dos seis livros de crónicas anteriormente editados.

77. Montanha, João Salaviza

77. Montanha, João Salaviza

Marana Borges 

Ele dorme. A pouca luz que escapa quarto adentro basta para anunciar o dia, entorná-lo sobre as suas costas de garoto, insinuar na cintura a beleza oblíqua da adolescência. Todo o filme é essa pintura de um verão passado às sombras. Porque faz calor; é preciso salvar-se. Mas também é preciso salvar-se dos outros, e a penumbra é a que melhor alberga as formas, os corpos, os medos. 

76. Alice Munro, Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento

76. Alice Munro, Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento

Helena Carneiro

Aceitar o que nos acontece não nos exime de responsabilidade; o truque está em percebermos que quaisquer que sejam os termos definidos, esses mudam no decurso do que vamos vivendo. As tentativas de equilíbrio e controlo que fazemos são para lidar com o que inevitavelmente teve de ser deixado para trás e com o que inevitavelmente nos deixou para trás. Munro sabe que não há acordos possíveis com o universo, apenas connosco.

75. Italo Calvino, O Cavaleiro Inexistente

75. Italo Calvino, O Cavaleiro Inexistente

Ana Ferraria

Il cavaliere inesistente, publicado em 1958, é o último volume da trilogia de Italo Calvino, trilogia essa que o autor reeditará, em 1960, com o título Os Nossos Antepassados (I nostri antenati), e com a qual pretende fazer despertar no homem contemporâneo do pós Segunda Guerra Mundial a consciência da raiz dos seus problemas. Calvino irá criar personagens e situações que lhe possibilitem levar ao extremo as dificuldades que pretende tratar

74. Daniel Arasse, Não se vê nada

74. Daniel Arasse, Não se vê nada

João Oliveira Duarte

Em Proust et les signes, Gilles Deleuze começa por afirmar, na topologia que faz dos diversos tipos de signos, a superioridade do ciúme em relação ao amor. Não apenas, afirma ele, “o ciúme é mais profundo” como, além disso, “ele contém a verdade do amor”. É o primeiro que confere ao segundo todo o seu peso, que abre neste a sua dimensão de pesquisa obstinada, que lhe revela toda a sua Paixão, que cria o signo amoroso. Se partirmos da já antiga proposição segundo a qual a verdade do amor deve ser interrogada do lado do amante e não do amado, encontramos no ciúme um limite que implica uma reversão da mesma. Neste, não é o amante que se limita a observar, a olhar, a interrogar, mas é a própria “paisagem” que nos olha e observa, que nos provoca

73. Ben Lerner, Leaving the Atocha Station

73. Ben Lerner, Leaving the Atocha Station

Telmo Rodrigues

O primeiro livro de prosa do poeta Ben Lerner, Leaving the Atocha Station, recebeu, de forma geral, críticas muito positivas. Entre as várias questões levantadas nessas críticas, amais abordada foi a maneira como a relação óbvia entre o narrador, Adam Gordon, e o próprio autor se dilui através da bonomia que marca a ficção. O bom humor confere à história uma nota de liberdade que não seria expectável quando os factos descritos são tão claramente autobiográficos, sendo que os críticos destacaram muitas vezes o desprendimento do autor face à personagem Adam, que é declaradamente, em muitos momentos, reflexo de si próprio. 

72. Alexandre Sokourov, Francofonia – O Louvre sob ocupação

72. Alexandre Sokourov, Francofonia – O Louvre sob ocupação

Ana Ferraria

À saída da projecção do mais recente filme de Alexandre Sokourov, Francofonia – O Louvre sob ocupação, durante a última edição do Lisbon Estoril Film Festival, dois desconhecidos pretenderam sondar a minha opinião acerca do mesmo. Segundo estes, Francofonia debruçava-se sobre tudo menos a francofonia (região linguística de língua francesa) e o seu título tratava-se, por isso, de propaganda enganosa. De acordo: este filme não tem como tema a cultura francesa e muito menos a sua língua. 

71. Marie-José Mondzain, Homo Spectator

71. Marie-José Mondzain, Homo Spectator

Ana Margarida Ferraria

Depois de Image, Icône, Économie (1977) e Le Commerce des Regards (2003), a filósofa francesa Marie-José Mondzain prossegue, em Homo Spectator, o seu estudo sobre a história da iconoclastia e da construção de imagens enquanto marca da distinção entre o homem e os restantes animais. Especialista no período bizantino, com um conhecimento profundo dos textos antigos, Mondzain recorre ao seu vasto saber académico para escrutinar o papel contemporâneo da imagem e a sua relação com o sujeito.