Tatiana Faia
Há dois museus Benaki em Atenas, o principal num edifício que me lembra um pouco o centro cultural de Belém, que aloja colecções de Arte Moderna e fica na Rua do Pireu, e um outro menor num edifício neoclássico em Koumpari, a avenida que desemboca em Syntagma e é, de um modo geral, dedicado a arte ligada à história das origens do estado grego na idade moderna. Não há muito para ver neste Benaki mais pequeno, e, indo lá uma vez, é daqueles lugares a que talvez não se pense em regressar. Mas está lá um manuscrito de Cavafy e as pistolas de Lord Byron e por isso de vez em quando dá-me uma nostalgia e refaço os passos desta idiossincrática peregrinação.
Tatiana Faia
A escala da obra de Giorgio Bassani, autor de Ferrara, nascido em Bolonha em 1916, é bastante singular na história do romance europeu do século XX. Bassani é verdadeiramente o autor de uma obra monumental escrita numa escala menor: novelas breves sobre personagens aparentemente insignificantes, obras primas de vinte páginas, contos imortais sobre gente que nunca sai de casa ou sobre uma discussão entre esposos, ao conduzir um carro pela província, sobre que estrada tomar na viagem de regresso a Roma. É difícil explicar o que seja ao certo o triunfo deste escritor, mas algo na sua ficção é vital não só como documento do mundo em que vivemos, mas na representação de tensões mínimas, equilíbrios fugazes entre as pessoas, por regra ocorridos sob um contexto histórico opressivo, que têm o poder de moldar as suas vidas.
Tatiana Faia
Numa das minhas últimas viagens a Atenas, passei algumas horas de um final de tarde no Classic Acropol Hotel, que acolheu em Maio de 2017, sob os auspícios da Fundação Onassis, uma exposição sobre Fukushima. Concebido por um dos grandes arquitectos gregos de meados do séc. XX, Emmanuel Vourekas, o edifício foi originalmente projectado com um relevo no átrio da autoria de Dimitris Pikionis, amado em Atenas por ser o arquitecto que projectou as áreas pedestres em redor da Acrópole. O luxuoso hotel de oito andares, que em tempos teve mobília desenhada por Le Corbusier nos espaços em redor do átrio, convenientemente localizado numa das praças mais centrais de Atenas, e numa das que a crise tornou mais dolorosamente degradadas e perigosas — a praça Omónia —, tem ainda a particularidade de ter sido conservado exactamente como estava no dia em que foi encerrado.
Tatiana Faia
Artful e The Foreigner, tendo objectos tão distintos, têm em comum uma série de ideias. Ambos exploram as relações entre deslocamento e identidade, ambos se baseiam na suposição de que há um paralelo entre o modo como a realidade (social e privada) e a natureza mais elementar das artes miméticas operam os seus significados. E ambos procuram pensar de que forma as perspectivas que estão em jogo na criação e apreensão de certas formas de arte são um mapa para ler o real. Ambos, em última análise, sugerem que experiências de deslocamento são vitais para o modo como as nossas vidas fazem sentido.