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Teresa Líbano Monteiro

210. Robert Musil, As Perturbações do Pupilo Törless

210. Robert Musil, As Perturbações do Pupilo Törless

Teresa Líbano Monteiro

Törless, protagonista de As perturbações do pupilo Törless (1906), de Robert Musil, levou muito a sério a célebre admoestação do templo de Apolo, em Delfos – «conhece-te a ti mesmo». A narrativa tem, contudo, lugar no prestigiado internato de W., localizado numa zona longínqua do império austro-húngaro, milénios decorridos desde a citada injunção délfica. É neste microcosmo que o jovem pupilo procurou conhecer as zonas mais insondáveis de si, não olhando a meios para atingir este fim. Assim, ainda que nos seja apresentado como um rapaz sensível, Törless tem um papel não despiciendo na intriga principal do livro, o martírio de Basini.

208. Agustina Bessa-Luís, Ordens Menores

208. Agustina Bessa-Luís, Ordens Menores

Teresa Líbano Monteiro

O roman à clef Ordens Menores, no qual José Régio figura sob o nome de Natan[1], pode ser lido como uma importante chave hermenêutica para outros dois textos de Agustina Bessa-Luís sobre o autor vilacondense: o artigo «Passagem sem ornamento» (Bessa-Luís, 1984) e o conjunto de cartas que a autora trocou com o seu reservado amigo (publicadas no pequeno volume Correspondência Agustina-Régio (1955-1968) [Bessa-Luís, 2014]). Com efeito, ganhamos muito, enquanto leitores, em ler o romance como uma tentativa de a autora de Fanny Owen desvendar a personalidade esquiva de José Régio, que tantas vezes se lhe ocultava nessa mesma correspondência. Na restante obra, o escritor d’A Velha Casa é igualmente enigmático: como afirma António Feijó, há uma constante vigilância por parte do autor para se resguardar do leitor[2], e esta autovigilância é sentida mesmo em livros tão escabrosos, pelo impudor sexual, como O Jogo da Cabra Cega. Opinião similar é a de Eugénio Lisboa no estudo José Régio ou a Confissão Relutante (Lisboa, 1988), no qual desenvolve o argumento de que os livros de José Régio vivem de uma vontade de confissão; esta raras vezes se concretiza[3], mas é justamente desse estado latente, simultaneamente desgastante e fértil, que vive a obra do autor d’As Encruzilhadas de Deus.

184. Eugénio Lisboa, José Régio: A Obra e o Homem

184. Eugénio Lisboa, José Régio: A Obra e o Homem

Teresa Líbano Monteiro

Eugénio Lisboa foi não só amigo pessoal do escritor José Régio como é, também, o seu maior e mais incansável crítico. José Régio – a obra e o homem constitui o ensaio mais longo que dedicou ao poeta de Vila do Conde e nele pretende, como explica na «Nota à 3.ª edição», «fazer a “soldadura” sobre o Homem e a Obra, sem fundamentalismos biografistas mas também sem preconceitos ferozmente antibiografistas» (p. 9). O ensaio foi publicado pela primeira vez em 1976, tendo sido de novo editado em 1986 e, mais de trinta anos depois, está novamente disponível nas livrarias graças à editora Opera Omnia. É necessário, aliás, deixar aqui uma nota de apreço a esta editora, que nestes últimos anos tem vindo a republicar volumes da obra de José Régio (e.g. Histórias de Mulheres, Biografia, Páginas de doutrina e crítica da Presença, a antologia de poemas Nunca vou por aí) e, neste caso, bibliografia crítica sobre o autor. A reedição destes livros – e, o que não é despiciendo, com um design simples e bonito – será um contributo para uma maior divulgação e leitura de José Régio pelo público geral português, algo de que beneficiarão, certamente, tanto o nome do escritor como os leitores.

167. José Tolentino Mendonça, O que É Amar um País: O Poder da Esperança

167. José Tolentino Mendonça, O que É Amar um País: O Poder da Esperança

TERESA LÍBANO MONTEIRO

O mais recente livro de José Tolentino Mendonça, O que é amar um país — O poder da esperança, foi escrito e publicado em 2020, em plena pandemia de Covid-19. O livro é uma breve reflexão que se debruça sobre esta crise global com preocupação, mas igualmente com alento e esperança, como anuncia o subtítulo. A reflexão reparte-se em três ensaios: o primeiro, que empresta o título ao livro, consiste no discurso que o cardeal D. Tolentino pronunciou, a convite do Presidente da República Portuguesa, no dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a 10 de Junho de 2020, e é essencialmente sobre Portugal — o seu passado, evocado na figura de Camões, as dificuldades vividas no presente e a necessidade de, neste tempo, relembrarmos e fortalecermos o conceito de «comunidade»; os dois outros ensaios, «O poder da esperança» e «Do tempo da calamidade ao tempo da graça», são um prolongamento do primeiro e ampliam-no para uma escala global, pois é essa a escala a que se sentiram, e sentem, os efeitos da pandemia.