110. Isabela Figueiredo, A Gorda

110. Isabela Figueiredo, A Gorda

Maria Rita Furtado

Ao abrir A Gorda, o primeiro romance de Isabela Figueiredo, além de epígrafes que poderiam ser consideradas comuns, na medida em que são excertos de textos, deparamos com uma «epígrafe sonora». Tal epígrafe não consiste em citações de letras de músicas, como se poderia esperar, mas antes numa lista de nomes de artistas e de títulos de músicas, ordenados cronologicamente. A lista é tão variada que não pode deixar de surpreender: ver nomes como Lou Reed e Ornatos Violeta ao lado de Abba e Amor Electro não é coisa habitual. A primeira curiosidade que o livro despertou foi, portanto, perceber o que faziam «Language is a Virus», de Laurie Anderson, e «Amanhã é Sempre Longe Demais», dos Rádio Macau, na mesma página, uma vez que não parece que a escolha das canções tenha sido acidental. Assim, foi preciso pensar nas letras das músicas e tentar descortinar o denominador comum: quase todas descrevem amores infelizes e todas contam histórias de vidas que ficaram por viver, pelas mais variadas razões. E é disso que Isabela Figueiredo nos fala: da vida não vivida de Maria Luísa, a personagem principal de A Gorda, mas também, e acima de tudo, da vontade que ela tem de a viver.

109. Terry Gilliam, Brazil

109. Terry Gilliam, Brazil

Maria de Almeida Alves

Em 1985, estreia Brazil, filme que conta com três argumentistas: Terry Gilliam — que o realiza —, Charles McKeown e Tom Stoppard. Recentemente reposto em dois cinemas lisboetas, é apresentado enquanto Brasil: O outro lado do sonho. Inusitadamente, dadas as traduções imaginativas a que nos vimos habituando nas salas de cinema portuguesas, o nome assenta-lhe. Submergimos num mundo desarrazoado, constantemente ameaçado por bombas ditas terroristas, no qual um regime totalitário se impõe através de uma máquina burocrática computorizada. Tendo presente a década em que o filme foi realizado, percebe-se que as máquinas de escrever façam parte do elenco, e, como tal, estejam lá quando uma barata esvoaça pela sala e é espalmada no tecto por um dos burocratas, caindo numa das máquinas e esborratando um nome que, de «Tuttle», passa a «Buttle», cumprindo a devida vénia a Kafka.

108. Eduardo Cintra Torres, Telenovela, Indústria e Cultura, Lda

108. Eduardo Cintra Torres, Telenovela, Indústria e Cultura, Lda

Tomás N. Castro

As telenovelas são um passatempo nacional que conta já com quatro décadas de história. Apesar da «baixeza de cultura» e da «fraqueza dos diálogos» — críticas sempre pertinentes das altas esferas da intelectualidade pátria —, a televisão generalista (descontando, por isso, o cabo) emite uma média de 2500 horas anuais destes produtos sucedâneos do folhetim oitocentista. Tomando as audiências de um dia ao acaso (19/04/2017), na relação dos cinco programas mais vistos encontramos, por ordem crescente do número médio de espectadores: duas telenovelas (c. 800 mil), um telejornal (c. 1 milhão) e outras duas telenovelas (c. 1,2-1,3 milhões; numa lista das 20 telenovelas mais vistas em Portugal desde o início deste século, os valores diários oscilam entre c. 1,1-1,6 milhões; vd. pp. 109-112). Tudo isto num país em que um livro que venda mais de 10 mil exemplares é considerado um bestseller (contra os 30 mil anteriores ao actual decréscimo das tiragens).

107. Matsuo Bashô, O Eremita Viajante

107. Matsuo Bashô, O Eremita Viajante

Lauro Reis

Para alguém familiarizado com literatura japonesa, o nome de Matsuo Bashô não acarretará novidade alguma; a sua obra poética continua a despertar curiosidade e a influenciar o curso poético japonês séculos após a sua vida (Bashô nasceu em 1644 e faleceu em 1694). Todavia, o interesse pela sua obra não se concentra somente em território nipónico: apesar do distanciamento temporal e idiomático, Bashô é traduzido hoje em quase todos os continentes. No que toca à presença de Bashô no contexto português, é fundamental destacar a clareza e consistência desta versão portuguesa da sua obra: perante todas as disparidades linguísticas, hermenêuticas e/ou culturais (discutidas, debatidas e esmiuçadas eternamente pelo e além do ofício da tradução), Joaquim M. Palma (doravante JMP) contribui para a divulgação de um poeta que se tem difundido para além das fronteiras geográficas, linguísticas e culturais de onde emergiu, ao transpor para português a obra completa de haikus, juntamente com as respectivas notas, glossários, contextualizações e esclarecimentos técnicos.

106. Tzvetan Todorov, Les Abus de la Mémoire

106. Tzvetan Todorov, Les Abus de la Mémoire

Marana Borges

Todorov (Sófia, 1939 – Paris, 2017) foi um homem que acreditou em outros homens. Um esperançoso, diriam alguns. Ou um humanista. Talvez por isso tenha aos poucos migrado da Literatura — campo em que se consagrou ao traduzir os principais textos do formalismo russo do início do século XX — para a Antropologia, a História das Ideias e a Política: parecia fazer um acerto de contas com sua juventude na Bulgária comunista, dispondo-se a criticar os totalitarismos e a examinar outras formas de conviver em sociedade. Sua aposta pela busca da justiça, em última instância, encurralaria os Estudos Literários em uma dimensão moralmente edificante.

105. Reinhold Zippelius, Filosofia do Direito

105. Reinhold Zippelius, Filosofia do Direito

Pedro Tiago Ferreira

Filosofia do Direito, de Reinhold Zippelius, é uma obra naturalmente dirigida a juristas, mas que convoca problemas que interessam a filósofos em geral, e não somente àqueles que reflectem especificamente sobre o Direito. Para além disso, o facto de ser uma obra redigida de uma forma muito clara é um factor de interesse para quem, não sendo jurista nem filósofo, procure uma obra de introdução ao pensamento jurídico que não coloque as habituais dificuldades da linguagem técnico-jurídica que, muitas vezes, se revela hermética para os não-juristas, funcionando como elemento de dissuasão à busca, por parte destes, da compreensão das mais elementares questões de filosofia do Direito.

104.

104.

Paulo Nóbrega Serra

Os navios da noite é o último livro do autor João de Melo (se não considerarmos a reedição de Autópsia de um mar de ruínas, reescrita pelo autor e publicada em 2017), e reúne 18 contos inéditos, contos esses que por vezes, dada a sua extensão, mais se aproximam da novela. O autor costuma, aliás, alternar na sua produção escrita a prosa de grande fôlego e livros que reúnem narrativas mais breves mas que partilham da mesma qualidade de uma prosa poética, ao mesmo tempo que procura reflectir sobre certas questões da contemporaneidade.

103. Andrew Dominik, One More Time with Feeling

103. Andrew Dominik, One More Time with Feeling

Sofia A. Carvalho

Sim, é possível que hoje já não existam canções de amor. É possível que o medo trave o mundo e os seus encantamentos. É possível que nada se revele superiormente belo e triste. É possível que os jericos deixem de ver a Deus. É possível que cessem os momentos de graça e abunde a estupidez. É possível que os anjos não se revoltem e os demónios jejuem. Mas nada disto acontece em One More Time With Feeling, documentário de Andrew Dominik sobre o processo de gravação de Skeleton Tree (2016), o mais recente álbum de Nick Cave. Esta espécie híbrida de documentário, que chegou em DVD a Portugal a 7 de Abril do presente ano com o acréscimo de três curtas-metragens, exige, pela sua natureza peculiar, uma nova abordagem: o que me importa explicitar e explorar é, de facto, a sua natureza complexa e contraditória. Fá-lo-ei a partir das noções de amor e protesto, dois aspectos que percorrem toda a produção musical de Nick Cave e que surgem negligenciados pela crítica.

102. Ali Smith, Artful; Richard Sennett, The Foreigner: Two Essays on Exile

102. Ali Smith, Artful; Richard Sennett, The Foreigner: Two Essays on Exile

Tatiana Faia

Artful e The Foreigner, tendo objectos tão distintos, têm em comum uma série de ideias. Ambos exploram as relações entre deslocamento e identidade, ambos se baseiam na suposição de que há um paralelo entre o modo como a realidade (social e privada) e a natureza mais elementar das artes miméticas operam os seus significados. E ambos procuram pensar de que forma as perspectivas que estão em jogo na criação e apreensão de certas formas de arte são um mapa para ler o real. Ambos, em última análise, sugerem que experiências de deslocamento são vitais para o modo como as nossas vidas fazem sentido.

101. Annie Ernaux, Mémoire de Fille

101. Annie Ernaux, Mémoire de Fille

Ana Cláudia Santos

Uma das premissas de Mémoire de fille, o livro mais recente de Annie Ernaux, é a de que este levou quase sessenta anos para poder ser escrito. O livro é a memória da «rapariga de 1958» (p. 17), que Annie Ernaux diz ter tentado esquecer: ela aos dezoito anos. Além de nunca a ter conseguido esquecer, a escritora francesa cedo se apercebeu da necessidade de escrever sobre ela. O «projecto 58» (p. 17) rapidamente se esboça, mas até à sua concretização, com Mémoire de fille, Annie Ernaux publica mais de uma dezena de livros, em que faz silêncio sobre os acontecimentos do Verão dos seus dezoito anos. Saber que relação existe entre os acontecimentos e o silêncio é talvez menos interessante do que reconhecer a importância do «projecto 58» para Annie Ernaux — isto é, reconhecer a sua crença na verdade daquela rapariga e a importância dela para a sua vida de escritora.

100. António M. Feijó, Uma Admiração Pastoril Pelo Diabo (Pessoa e Pascoaes)

100. António M. Feijó, Uma Admiração Pastoril Pelo Diabo (Pessoa e Pascoaes)

David Antunes

Este livro reúne, revistos e ampliados, vários ensaios sobre Fernando Pessoa e um texto sobre Teixeira de Pascoaes, anteriormente publicados pelo autor, resultando numa composição final de sete capítulos, precedidos de uma nota introdutória e seguidos de bibliografia e índices. A disposição estrutural dos capítulos é tudo menos desprovida de significado, bastando considerar, por exemplo, a centralidade do Capítulo IV sobre Pascoaes e a natureza conclusiva do último capítulo, «Livro do Desassossego», no qual se considera que o Livro, de Bernardo Soares, «é parte do propósito sistémico de estabelecer as condições iniciais da Literatura» (p. 157). Igualmente notório, se tivermos em consideração os títulos anteriores destes textos (cuja proveniência é referida no final do volume), é um certo laconismo na nomeação de cada capítulo — Alberto Caeiro I, Alberto Caeiro II, respectivamente capítulos II e III —, com excepção do primeiro: «A impessoalidade e o “Dia Triunfal” de Fernando Pessoa». Estes aspectos, em particular o primeiro, são relevantes porque, sendo clara a autonomia relativa de cada capítulo, herdeira de um passado editorial independente, é, porém, especialmente evidente o carácter assertivo da tese de António Feijó e a progressão cumulativa de um argumento acerca daquilo a que o autor chama o «sistema de Pessoa» e o «sistema de Pascoaes».

99. Henry David Thoreau, Walden e «Ktaadn»

99. Henry David Thoreau, Walden e «Ktaadn»

Pedro Madeira

Pouco antes de entrarmos no ano em que Henry David Thoreau completaria duzentos anos, a Relógio D’Água lança uma nova tradução de Walden, por Alda Rodrigues. Esta publicação importante é também oportuna. Não tanto por assinalar a efeméride, mas sobretudo porque se acumulam os sinais de que Thoreau, que até há muito pouco tempo esteve ausente, ou quase, do panorama editorial português, está hoje na moda em Portugal.

98. Ricardo Araújo Pereira, A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar

98. Ricardo Araújo Pereira, A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar

Nuno Amado

A dada altura de A Doença, o Sofrimento e a Morte entram num bar, Ricardo Araújo Pereira define o seu trabalho de humorista como o «ofício de fazer desfeitas ao mundo» (p. 33). À luz desta definição insólita, o humorista supremo seria aquele que passasse a vida a desfeitear o mundo. É essa, aliás, a ambição do protagonista de Jacques, o Fatalista, tal como se percebe pelo exemplo de que RAP se serve, no último capítulo do livro, para justificar a ideia de que o riso tem o poder de subverter o medo da morte. Se tivesse conseguido «troçar de tudo», o protagonista da obra de Diderot ter-se-ia livrado de todas as «preocupações», não teria «necessidade de mais nada» e tornar-se-ia «perfeito senhor de mim mesmo» (p. 106). Ora, o auto-domínio e a auto-suficiência nos quais consistiria o triunfo sobre o mundo desejado por Jacques são talvez as características mais distintivas da figura do sábio, tal como ela é pensada ao longo de toda a tradição filosófica ocidental. Uma ideia importante a reter é, pois, a de que humor, para RAP, é uma forma de sabedoria.

97. Martin Scorsese, Silence

97. Martin Scorsese, Silence

Lauro Reis

Depois de quase três décadas de avanços e recuos, Martin Scorsese concretiza finalmente o projecto que havia idealizado depois de realizar A Última Tentação de Cristo (1988). Silêncio (2016) é uma adaptação do livro homónimo de Shusaku Endo, escritor japonês cristão, publicado em 1966. Esta adaptação cinematográfica reproduz fielmente a narrativa do romance epistolar de Endo: após saber que o seu mestre, o padre jesuíta Cristóvão Ferreira, havia apostatado, renunciado à sua fé em público pisando uma figura de Cristo (fumi-e), e recomeçado a sua vida como um japonês, os seus discípulos, padres Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe, não acreditando em tais rumores, partem para o Japão em busca de respostas. Esta é a premissa de um filme que se destaca pelo contraste entre a claridade de execução cinematográfica e a sua ambiguidade temática: a duplicidade do silêncio como abandono ou aproximação a Deus.

96. Andrew Haigh, 45 Years

96. Andrew Haigh, 45 Years

Marana Borges

É uma manhã cinzenta, como são as manhãs inglesas, com poucos contrastes de cor (e de emoções). Verde escuro, tonalidades de marrom, cinza. O céu nublado distingue-se do chão de relva mais por nuance que por oposição. Nesse demorado plano geral, acompanhamos de longe o passeio campestre de uma mulher ao encontro de seu cachorro, sempre à frente, sempre fora do alcance. O começo resume a ideia do filme: é sobre distâncias que ele nos falará — entre um casal de idosos sem filhos; entre quem pensamos ser e quem nos descobrimos sendo; aquilo que julgamos conhecer do outro e o que o outro mesmo desconhece sobre si; onde estamos hoje e o que escolheríamos para nossas vidas quando ainda não era tarde demais.

95. Jorge de Sena e Eugénio de Andrade, Correspondência (1949-1978)

95. Jorge de Sena e Eugénio de Andrade, Correspondência (1949-1978)

Joana Meirim

José Saramago, num obituário intitulado «Sena», publicado no Diário de Lisboa a 12 de Junho de 1978, conta-nos que travou conhecimento com Jorge de Sena através da troca de cartas. Apesar de a maioria ser de natureza editorial, Saramago assinala que a personalidade de Sena é a principal razão de ser para a existência desta correspondência: «quem alguma vez recebeu carta de Jorge de Sena, sabe que nela sempre esteve, além do motivo imediato que a justificasse, um outro motivo que em todas obsessivamente se exprimia: o autor delas» (Saramago 1978, 487).

94. Paul Bloom, Against Empathy: The Case for Rational Compassion

94. Paul Bloom, Against Empathy: The Case for Rational Compassion

Telmo Rodrigues

Paul Bloom’s Against Empathy belongs to a recent trend of making the case for bold and counter-intuitive claims, usually through a huge amount of scientific and academic apparatus. It is not without some surprise, then, that the research used throughout the book is treated accordingly to the needs of the argument, considered at times sound proof for a belief while many times being rebuffed as inaccurate. For instance, questionnaires provide several types of scales, but we are informed these types of scales are easily misleading as subjects can lie or be influenced by several types of conditions (nonetheless, the Baron-Cohen scale of empathy, classified as problematic, is used several times). At a certain point, a study is given to explain how the place where questionnaires and studies are carried has impact on the results: “People are more likely to vote for sales taxes that will fund education when the polling place is in a school” (160). Besides this, many studies are put into question by counter studies set on proving the first wrong. Given the fickle nature of the research, and of the use given to it, we are left with Mr. Bloom’s ability to argue his case.

93. The Divine Comedy, Foreverland

93. The Divine Comedy, Foreverland

Rita Lavos

Na página online dos The Divine Comedy lê-se que Foreverland é sobre «meeting your soul mate and living happily ever after... and then what comes after happily ever after». Numa leitura literal da primeira parte da descrição que Neil Hannon faz do seu décimo primeiro álbum, seis anos depois do anterior, sabe-se que pelo menos duas canções, ambas singles, se referem de forma disfarçada, mas também específica, à sua companheira: «Catherine The Great» e «To the Rescue». Se o título da primeira é uma referência directa ao seu nome, a segunda é inequívoca em relação a uma das suas ocupações: «Got a vigilante sleeping in my bed / I looked for Marilyn, I got Che instead / But I’ll march behind you wherever you may go / And I’m more proud of you than you can never know». Cathy Davey é uma das fundadoras de uma associação de apoio a animais na Irlanda.

92. Rafael Spregelburd, A Estupidez + João Pedro Mamede (encenação), A Estupidez

92. Rafael Spregelburd, A Estupidez + João Pedro Mamede (encenação), A Estupidez

Inês Amado da Silva

Qual é, exactamente, a diferença entre um motel e um hotel? Substitua-se a pergunta por uma equivalente: qual é a diferença entre arte verdadeira e arte falsa? Poder-se-ia responder que a diferença reside, em ambos os casos, no que valem em dinheiro, a força centrifugadora de A Estupidez — o dinheiro é vital para a acção da peça, impondo-se como origem dos acontecimentos e relegando para segundo plano as verdadeiras causas do que vemos acontecer em palco. Mas o texto de Rafael Spregelburd mostra, na sua totalidade, muitas vezes resumida em frases soltas, uma reflexão que complexifica esta acção centrifugadora: o dinheiro também exerce a sua força de uma forma centrípeta, chamando a si as motivações da acção humana, que convergem no leitmotiv do dinheiro como que atraídas pelo olho de um furacão. A habilidade exímia do autor consiste precisamente em tornar a peça confusa, risível, ou apenas aparentemente estúpida e desprovida de um sentido, como a vida normal parece ser. Spregelburd consegue expor a lógica contraditória que caracteriza a estupidez conferindo esta mesma lógica à estrutura da peça.