119. A. Scott Berg, Max Perkins: Editor of Genius

119. A. Scott Berg, Max Perkins: Editor of Genius

Helena Carneiro

Em 2016 estreou o filme Genius, de Michael Grandage, sobre o editor norte-americano Max Perkins. A ênfase do filme recai na sua relação com o escritor Thomas Wolfe, não deixando de haver referências aos dois outros escritores mais famosos com quem Perkins trabalhou: F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. Quem vê o filme à procura de uma descrição detalhada do trabalho de Perkins, não a encontra. Embora existam momentos em que se veja o modo como Perkins trabalha — a leitura dos manuscritos nas viagens de comboio diárias entre Nova Iorque, onde trabalhava na sede da Charles Scribner’s Sons, e New Canaan, onde morava; os conselhos técnicos a Wolfe acerca da extensão dos seus manuscritos; o uso abundante do lápis vermelho —, fica-se com a sensação de que o que nos foi mostrado é insuficiente. O filme tem, no entanto, duas virtudes para quem se interessa pelo trabalho de edição: dar a conhecer, a quem o desconhecia, este editor; fornecer indicações para quem quer saber mais: o filme é baseado na biografia de Perkins que A. Scott Berg escreveu em 1978.

118. Laurent Binet, A Sétima Função Da Linguagem

118. Laurent Binet, A Sétima Função Da Linguagem

Paulo Nóbrega Serra

No dia 25 de Fevereiro de 1980, o linguista, filósofo e crítico literário Roland Barthes é vítima de um atropelamento. Morre um mês depois, no seu quarto de hospital, no dia 26 de Março de 1980 — data conforme à realidade —, não em resultado do acidente, mas vítima de um assassinato, desta vez bem sucedido. Enquanto o título da obra refere aquilo que seria a mais recente descoberta de Barthes, a sétima função da linguagem, o subtítulo, «Quem matou Roland Barthes?», procura evidenciar a natureza de thriller policial do livro. Contudo, à medida que avançamos na leitura, a narrativa evidencia-se mais como sátira do que como mistério. Laurent Binet caminha numa linha ténue entre o popular e o erudito: se por um lado joga com uma série de códigos e referentes (como no caso da sociedade secreta, as senhas de entrada, os espiões, o sexo), por outro tudo é subvertido por meio da sátira, ainda mais porque a intriga assenta num tema obscuro (intencionalmente?), que parece pouco explicado, ou pelo menos de forma pouco convincente, e move-se entre uma série de referências que só alguns leitores irão captar numa primeira leitura mesmo que desatenta.

117. Jim Jarmusch, Paterson

117. Jim Jarmusch, Paterson

Lauro Reis

Paterson é um poeta e condutor de autocarros. Vive em Paterson, Nova Jérsia, com a sua companheira chamada Laura, que sonha abrir uma pastelaria e tornar-se uma estrela de música country. Paterson escreve poemas antes de começar o seu turno no trabalho, durante a pausa de almoço e quando tem algum tempo livre. Gosta de escutar as conversas dos passageiros enquanto conduz o autocarro e de contemplar as quedas d´água do rio Passaic, enquanto come o almoço que Laura lhe preparou. Todas as noites passeia um Bulldog Inglês chamado Marvin até ao seu bar habitual, onde toma a sua expectável cerveja, assinalando assim o final desse dia.

116.  Karen Van Dyck, Austerity Measures; Christos Ikonomou, Something Will Happen, You’ll See

116. Karen Van Dyck, Austerity Measures; Christos Ikonomou, Something Will Happen, You’ll See

Tatiana Faia

Numa das minhas últimas viagens a Atenas, passei algumas horas de um final de tarde no Classic Acropol Hotel, que acolheu em Maio de 2017, sob os auspícios da Fundação Onassis, uma exposição sobre Fukushima. Concebido por um dos grandes arquitectos gregos de meados do séc. XX, Emmanuel Vourekas, o edifício foi originalmente projectado com um relevo no átrio da autoria de Dimitris Pikionis, amado em Atenas por ser o arquitecto que projectou as áreas pedestres em redor da Acrópole. O luxuoso hotel de oito andares, que em tempos teve mobília desenhada por Le Corbusier nos espaços em redor do átrio, convenientemente localizado numa das praças mais centrais de Atenas, e numa das que a crise tornou mais dolorosamente degradadas e perigosas — a praça Omónia —, tem ainda a particularidade de ter sido conservado exactamente como estava no dia em que foi encerrado.

115.James Gray, The Lost City of Z

115.James Gray, The Lost City of Z

Tiago J. Silva

Tornou-se comum entre vários críticos enfatizar a singularidade do lugar de James Gray no cinema contemporâneo. A sua posição é a de quem tenta fazer justiça a certas coisas que se julga terem desaparecido ao mostrar que a persistência delas no tempo pode afinal ser asseverada. Entre essas coisas está uma certa ideia de como se deve fazer filmes e de como se deve filmar pessoas. The Lost City of Z, tendo por base o livro homónimo de David Grann, corrobora certas opiniões sobre a obra do realizador ao mesmo tempo que torna claros os termos da sobrevivência do tipo de cinema que Gray quer defender.

114. Lorde, Melodrama

114. Lorde, Melodrama

Tiago Clariano

Lorde é a heroína pop da imperfeição: as suas canções não expressam o desejo de poder viver melhor, mas o de aproveitar o momento que se vive. Para ela, e de uma perspectiva estética, a imperfeição tem muito mais para oferecer do que qualquer concretização perfeita dos seus planos.

113. Nick Willing, Paula Rego

113. Nick Willing, Paula Rego

Sofia A. Carvalho

Era uma vez. E quem não se lembra da voz suave e hipnótica da avó a contar mais uma história para adormecer à sua neta de eleição? Eu não. Não sendo a vida um conto de fadas, e à semelhança do que este último esconde, aquela é feita de uma desarmante perversidade. Pois bem: o filme documental Paula Rego, Secrets & Stories, realizado pelo filho Nick Willing — exibido pela primeira vez no dia 25 de Março na BBC2, e cuja antestreia nacional foi a 4 de Abril na Fundação Calouste Gulbenkian, contando aí com a presença do realizador e da artista —, retrata isso mesmo. O conto de fadas em Paula Rego assume o tom de revolta de uma mulher-cão: contradictio in terminis assumida pela pintora, que surge retratada pelos filhos como um ser estranho — anjo perverso e vingativo — que possui algo de belo, mas talvez por isso intocável e intangível.

112. Fernando Pessoa, Obra Completa de Ricardo Reis

112. Fernando Pessoa, Obra Completa de Ricardo Reis

Nuno Amado

Depois da publicação da Obra Completa de Álvaro de Campos, em 2014, e da Obra Completa de Alberto Caeiro, já em 2016, a Tinta-da-China concluiu no final do ano passado a trilogia das obras integrais dos três principais heterónimos pessoanos com a Obra Completa de Ricardo Reis. De acordo com os editores, Jerónimo Pizarro e Jorge Uribe, os propósitos desta edição eram os de dar a ler «um Reis mais bem decifrado, mais completo e mais diacrónico» (p. 17). Os principais méritos desta edição são indissociáveis destes três propósitos.

111. David Lynch e Mark Frost, Twin Peaks: The Return

111. David Lynch e Mark Frost, Twin Peaks: The Return

João N.S. Almeida

No final da segunda temporada de Twin Peaks, o último episódio era constituído em grande parte por uma sequência já não onírica mas sobrenatural, ancorada no mundo real do enredo, onde uma personagem dizia ao protagonista que se voltariam a ver passados vinte e cinco anos. Esta terceira temporada surge depois desse intervalo de tempo, mas nada disto é necessariamente premeditado em Lynch. Na criação do enredo da série, os elementos narrativos são dispostos como pontas soltas que se vão completando conforme as circunstâncias o sugerirem, não só aquelas inerentes à criação artística mas também as exteriores, tal como as reacções do público e as pressões do formato e do meio. Alguns elementos acabam por permanecer non sequitur, outros adquirem uma importância que transcende o micro-enredo e atinge o patamar de veículo principal da trama. Isto é feito em modo de fluxo de consciência, técnica recuperada da pintura do expressionismo abstracto, onde Lynch se formou, mas já presente em tradições anteriores. A primeira e segunda temporadas da série foram construídas dessa forma, onde se juntavam elementos obtidos através de inspiração e improvisação, ligados ao fio principal do enredo por critérios estéticos ou até esotéricos, e não tendo necessariamente como fim uma conclusão da trama policial. A revelação forçada do assassino, a meio da segunda temporada, «matou a galinha que punha os ovos de ouro» e deixou o enredo à deriva, procurando outros fios narrativos improvisados sob pressão. Foi este o ponto em que a série foi interrompida e agora retomada.

110. Isabela Figueiredo, A Gorda

110. Isabela Figueiredo, A Gorda

Maria Rita Furtado

Ao abrir A Gorda, o primeiro romance de Isabela Figueiredo, além de epígrafes que poderiam ser consideradas comuns, na medida em que são excertos de textos, deparamos com uma «epígrafe sonora». Tal epígrafe não consiste em citações de letras de músicas, como se poderia esperar, mas antes numa lista de nomes de artistas e de títulos de músicas, ordenados cronologicamente. A lista é tão variada que não pode deixar de surpreender: ver nomes como Lou Reed e Ornatos Violeta ao lado de Abba e Amor Electro não é coisa habitual. A primeira curiosidade que o livro despertou foi, portanto, perceber o que faziam «Language is a Virus», de Laurie Anderson, e «Amanhã é Sempre Longe Demais», dos Rádio Macau, na mesma página, uma vez que não parece que a escolha das canções tenha sido acidental. Assim, foi preciso pensar nas letras das músicas e tentar descortinar o denominador comum: quase todas descrevem amores infelizes e todas contam histórias de vidas que ficaram por viver, pelas mais variadas razões. E é disso que Isabela Figueiredo nos fala: da vida não vivida de Maria Luísa, a personagem principal de A Gorda, mas também, e acima de tudo, da vontade que ela tem de a viver.

109. Terry Gilliam, Brazil

109. Terry Gilliam, Brazil

Maria de Almeida Alves

Em 1985, estreia Brazil, filme que conta com três argumentistas: Terry Gilliam — que o realiza —, Charles McKeown e Tom Stoppard. Recentemente reposto em dois cinemas lisboetas, é apresentado enquanto Brasil: O outro lado do sonho. Inusitadamente, dadas as traduções imaginativas a que nos vimos habituando nas salas de cinema portuguesas, o nome assenta-lhe. Submergimos num mundo desarrazoado, constantemente ameaçado por bombas ditas terroristas, no qual um regime totalitário se impõe através de uma máquina burocrática computorizada. Tendo presente a década em que o filme foi realizado, percebe-se que as máquinas de escrever façam parte do elenco, e, como tal, estejam lá quando uma barata esvoaça pela sala e é espalmada no tecto por um dos burocratas, caindo numa das máquinas e esborratando um nome que, de «Tuttle», passa a «Buttle», cumprindo a devida vénia a Kafka.

108. Eduardo Cintra Torres, Telenovela, Indústria e Cultura, Lda

108. Eduardo Cintra Torres, Telenovela, Indústria e Cultura, Lda

Tomás N. Castro

As telenovelas são um passatempo nacional que conta já com quatro décadas de história. Apesar da «baixeza de cultura» e da «fraqueza dos diálogos» — críticas sempre pertinentes das altas esferas da intelectualidade pátria —, a televisão generalista (descontando, por isso, o cabo) emite uma média de 2500 horas anuais destes produtos sucedâneos do folhetim oitocentista. Tomando as audiências de um dia ao acaso (19/04/2017), na relação dos cinco programas mais vistos encontramos, por ordem crescente do número médio de espectadores: duas telenovelas (c. 800 mil), um telejornal (c. 1 milhão) e outras duas telenovelas (c. 1,2-1,3 milhões; numa lista das 20 telenovelas mais vistas em Portugal desde o início deste século, os valores diários oscilam entre c. 1,1-1,6 milhões; vd. pp. 109-112). Tudo isto num país em que um livro que venda mais de 10 mil exemplares é considerado um bestseller (contra os 30 mil anteriores ao actual decréscimo das tiragens).

107. Matsuo Bashô, O Eremita Viajante

107. Matsuo Bashô, O Eremita Viajante

Lauro Reis

Para alguém familiarizado com literatura japonesa, o nome de Matsuo Bashô não acarretará novidade alguma; a sua obra poética continua a despertar curiosidade e a influenciar o curso poético japonês séculos após a sua vida (Bashô nasceu em 1644 e faleceu em 1694). Todavia, o interesse pela sua obra não se concentra somente em território nipónico: apesar do distanciamento temporal e idiomático, Bashô é traduzido hoje em quase todos os continentes. No que toca à presença de Bashô no contexto português, é fundamental destacar a clareza e consistência desta versão portuguesa da sua obra: perante todas as disparidades linguísticas, hermenêuticas e/ou culturais (discutidas, debatidas e esmiuçadas eternamente pelo e além do ofício da tradução), Joaquim M. Palma (doravante JMP) contribui para a divulgação de um poeta que se tem difundido para além das fronteiras geográficas, linguísticas e culturais de onde emergiu, ao transpor para português a obra completa de haikus, juntamente com as respectivas notas, glossários, contextualizações e esclarecimentos técnicos.

106. Tzvetan Todorov, Les Abus de la Mémoire

106. Tzvetan Todorov, Les Abus de la Mémoire

Marana Borges

Todorov (Sófia, 1939 – Paris, 2017) foi um homem que acreditou em outros homens. Um esperançoso, diriam alguns. Ou um humanista. Talvez por isso tenha aos poucos migrado da Literatura — campo em que se consagrou ao traduzir os principais textos do formalismo russo do início do século XX — para a Antropologia, a História das Ideias e a Política: parecia fazer um acerto de contas com sua juventude na Bulgária comunista, dispondo-se a criticar os totalitarismos e a examinar outras formas de conviver em sociedade. Sua aposta pela busca da justiça, em última instância, encurralaria os Estudos Literários em uma dimensão moralmente edificante.

105. Reinhold Zippelius, Filosofia do Direito

105. Reinhold Zippelius, Filosofia do Direito

Pedro Tiago Ferreira

Filosofia do Direito, de Reinhold Zippelius, é uma obra naturalmente dirigida a juristas, mas que convoca problemas que interessam a filósofos em geral, e não somente àqueles que reflectem especificamente sobre o Direito. Para além disso, o facto de ser uma obra redigida de uma forma muito clara é um factor de interesse para quem, não sendo jurista nem filósofo, procure uma obra de introdução ao pensamento jurídico que não coloque as habituais dificuldades da linguagem técnico-jurídica que, muitas vezes, se revela hermética para os não-juristas, funcionando como elemento de dissuasão à busca, por parte destes, da compreensão das mais elementares questões de filosofia do Direito.

104.

104.

Paulo Nóbrega Serra

Os navios da noite é o último livro do autor João de Melo (se não considerarmos a reedição de Autópsia de um mar de ruínas, reescrita pelo autor e publicada em 2017), e reúne 18 contos inéditos, contos esses que por vezes, dada a sua extensão, mais se aproximam da novela. O autor costuma, aliás, alternar na sua produção escrita a prosa de grande fôlego e livros que reúnem narrativas mais breves mas que partilham da mesma qualidade de uma prosa poética, ao mesmo tempo que procura reflectir sobre certas questões da contemporaneidade.

103. Andrew Dominik, One More Time with Feeling

103. Andrew Dominik, One More Time with Feeling

Sofia A. Carvalho

Sim, é possível que hoje já não existam canções de amor. É possível que o medo trave o mundo e os seus encantamentos. É possível que nada se revele superiormente belo e triste. É possível que os jericos deixem de ver a Deus. É possível que cessem os momentos de graça e abunde a estupidez. É possível que os anjos não se revoltem e os demónios jejuem. Mas nada disto acontece em One More Time With Feeling, documentário de Andrew Dominik sobre o processo de gravação de Skeleton Tree (2016), o mais recente álbum de Nick Cave. Esta espécie híbrida de documentário, que chegou em DVD a Portugal a 7 de Abril do presente ano com o acréscimo de três curtas-metragens, exige, pela sua natureza peculiar, uma nova abordagem: o que me importa explicitar e explorar é, de facto, a sua natureza complexa e contraditória. Fá-lo-ei a partir das noções de amor e protesto, dois aspectos que percorrem toda a produção musical de Nick Cave e que surgem negligenciados pela crítica.

102. Ali Smith, Artful; Richard Sennett, The Foreigner: Two Essays on Exile

102. Ali Smith, Artful; Richard Sennett, The Foreigner: Two Essays on Exile

Tatiana Faia

Artful e The Foreigner, tendo objectos tão distintos, têm em comum uma série de ideias. Ambos exploram as relações entre deslocamento e identidade, ambos se baseiam na suposição de que há um paralelo entre o modo como a realidade (social e privada) e a natureza mais elementar das artes miméticas operam os seus significados. E ambos procuram pensar de que forma as perspectivas que estão em jogo na criação e apreensão de certas formas de arte são um mapa para ler o real. Ambos, em última análise, sugerem que experiências de deslocamento são vitais para o modo como as nossas vidas fazem sentido.

101. Annie Ernaux, Mémoire de Fille

101. Annie Ernaux, Mémoire de Fille

Ana Cláudia Santos

Uma das premissas de Mémoire de fille, o livro mais recente de Annie Ernaux, é a de que este levou quase sessenta anos para poder ser escrito. O livro é a memória da «rapariga de 1958» (p. 17), que Annie Ernaux diz ter tentado esquecer: ela aos dezoito anos. Além de nunca a ter conseguido esquecer, a escritora francesa cedo se apercebeu da necessidade de escrever sobre ela. O «projecto 58» (p. 17) rapidamente se esboça, mas até à sua concretização, com Mémoire de fille, Annie Ernaux publica mais de uma dezena de livros, em que faz silêncio sobre os acontecimentos do Verão dos seus dezoito anos. Saber que relação existe entre os acontecimentos e o silêncio é talvez menos interessante do que reconhecer a importância do «projecto 58» para Annie Ernaux — isto é, reconhecer a sua crença na verdade daquela rapariga e a importância dela para a sua vida de escritora.

100. António M. Feijó, Uma Admiração Pastoril Pelo Diabo (Pessoa e Pascoaes)

100. António M. Feijó, Uma Admiração Pastoril Pelo Diabo (Pessoa e Pascoaes)

David Antunes

Este livro reúne, revistos e ampliados, vários ensaios sobre Fernando Pessoa e um texto sobre Teixeira de Pascoaes, anteriormente publicados pelo autor, resultando numa composição final de sete capítulos, precedidos de uma nota introdutória e seguidos de bibliografia e índices. A disposição estrutural dos capítulos é tudo menos desprovida de significado, bastando considerar, por exemplo, a centralidade do Capítulo IV sobre Pascoaes e a natureza conclusiva do último capítulo, «Livro do Desassossego», no qual se considera que o Livro, de Bernardo Soares, «é parte do propósito sistémico de estabelecer as condições iniciais da Literatura» (p. 157). Igualmente notório, se tivermos em consideração os títulos anteriores destes textos (cuja proveniência é referida no final do volume), é um certo laconismo na nomeação de cada capítulo — Alberto Caeiro I, Alberto Caeiro II, respectivamente capítulos II e III —, com excepção do primeiro: «A impessoalidade e o “Dia Triunfal” de Fernando Pessoa». Estes aspectos, em particular o primeiro, são relevantes porque, sendo clara a autonomia relativa de cada capítulo, herdeira de um passado editorial independente, é, porém, especialmente evidente o carácter assertivo da tese de António Feijó e a progressão cumulativa de um argumento acerca daquilo a que o autor chama o «sistema de Pessoa» e o «sistema de Pascoaes».