É possível que a prática desportiva nunca tenha sido tão generalizada e diversa como hoje em dia. Nas sociedades ocidentais, e pelo menos nas grandes metrópoles, o desporto já não é uma coisa apenas de desportistas profissionais, e mesmo aqueles com menos disponibilidade para o lazer arranjam espaço nas suas agendas para fazer desporto. Ao mesmo tempo, nunca houve tantos desportos à disposição de quem pretende praticá-los como há agora. Além de a prática desportiva se ter generalizado e diversificado, é igualmente possível que nunca se tenha consumido tanto desporto como se consome actualmente. As transmissões televisivas são cada vez mais sofisticadas, e os grandes eventos desportivos cada vez mais acontecimentos à escala mundial. Ainda que o consumo de futebol, sobretudo no contexto europeu, supere largamente tudo o resto, é inequívoco que muitos outros desportos têm um prestígio e um alcance nunca antes visto. Haverá com certeza razões sociológicas profundas para que o desporto seja hoje mais importante do que alguma vez foi (o ambiente de paz que em geral se vive no mundo ocidental, o avanço civilizacional e tecnológico das últimas décadas, a globalização, etc.). Sejam quais forem, a importância do desporto nas sociedades modernas é inegável. Este número da Forma de Vida, especialmente dedicado ao desporto, procura dar expressão a essa importância.
A relevância do corpo na prática desportiva é, evidentemente, crucial. Reunimos nesta secção quatro textos que exploram de maneiras diferentes a relação do corpo com a mente, por um lado, mas também as expectativas que temos sobre como nos devemos comportar para mantermos o nosso corpo saudável em relação a normas sociais voláteis. Sobre a primeira problemática escrevem Gonçalo Santos e João N. S. Almeida, sobre a segunda, Ana Cláudia Santos e Marta Cordeiro.
Pedimos a alguns adeptos de futebol que tentassem responder à pergunta: «Porque é que sou deste clube?» Marcello Sacco escreve sobre como foi crescer como adepto da Juventus; Miguel Tamen celebra poder finalmente usar o plural de Belenenses com propriedade; José Reis descreve como foi assistir à ascensão do Porto ao topo do futebol nacional e internacional; Pedro Santo explica qual é a relação entre ser do Sporting e ser quem é.
Da Juventus à Maturidade
Marcello Sacco
O Belenenses
Miguel Tamen
Tripeiro eu Sou: Anatomia de um Andrade
José Reis
1984
Pedro Santo
Desportos
Desportos
A hegemonia do futebol no contexto europeu deixa normalmente pouco espaço a outras modalidades. Tentámos inverter a situação convidando algumas pessoas a escrever sobre outros deportos, seja como praticantes, seja como adeptos. Jorge Almeida escreve sobre running, Ana Ferraria sobre escalada e João Esteves da Silva sobre snooker. Pedro Franco traduziu do alemão dois textos de Hans Ulrich Gumbrecht sobre as potencialidades estéticas do futebol americano.
Forrest Gump e os Motivos que levam as Pessoas a Correr
Jorge Almeida
Futebol Americano como Fórmula de um Pathos
Hans Ulrich Gumbrecht
Count Down para o Super Bowl
Hans Ulrich Gumbrecht
Escalada, Desporto e Modos de Vida
Ana Ferraria
Five Snookered Remarks
João Esteves da Silva
Histórias
Histórias
Para a secção de histórias, convidámos alguns amigos para escrever sobre episódios ou personagens marcantes na história do desporto. João Pedro Vala escreve sobre o herói improvável, Eddie the Eagle, enquanto Carla Quevedo aborda a história sobre a heroína menosprezada, Tonya Harding. Ricardo Namora revive a «tragédia de Sarriá» e Elisabete M. de Sousa escreve sobre as consequências de acções heróicas tomadas nos Jogos Olímpicos de 1968.
Na secção de Entrevista, Nuno Amado reuniu as opiniões de seis pessoas ligadas à área da formação num texto sobre as formas de potenciar e explorar o talento desportivo no futebol. João Amado, Blessing Lumueno, Cláudio Botelho, José Boto, Mauro Mouralinho e Tiago Teixeira partilham as suas experiências e ideias sobre o que é formar futebolistas em Portugal e explicam as razões que os levam a duvidar de muitos lugares-comuns sobre o desporto no qual trabalham.
Na secção de Tradução, juntamos a poesia e a ficção. Na poesia, José Pedro Moreira traduz Píndaro e Andrea Ragusa traduz Fernando Acitelli. Na ficção, Helena Carneiro traduz dois contos de Ralph Henry Barbour, ambos retirados da colectânea The New Boy at Hilltop and Other Stories (1910).
SCRIPTEASE EDITIONS: TURNING LANGUAGE INTO OBJECTS
O projecto Scriptease Editions adoptou as palavras de Antonin Artaud: «Jamais réel et toujours vrai», violando deliberadamente a razão, os comportamentos lógicos e as narrativas coerentes, utilizando justaposições bizarras, non-sequiturs, irracionalidades, absurdos e non-sense.